Quando denunciar vira arma e hipocrisia entra de camarote nas eleições
Reprodução: Youtube @felcaseita
Tem influenciador que usa milhões de seguidores para mostrar a vida perfeita que ninguém tem. Tem os que viram outdoor ambulante de whey protein. E tem quem resolva usar o alcance para cutucar a ferida e expor o que todo mundo devia saber, mas muita gente prefere fingir que não vê. Felca está nesse último time — e ainda bem.
Foi dele a denúncia que jogou luz sobre a adultização de crianças nas redes sociais — aquele processo nojento e perigoso em que meninas e meninos são expostos, sexualizados ou usados para atrair engajamento. No caso, apontou o influenciador Hytalo Santos e práticas que já estavam sob investigação. Em poucos dias, o vídeo de Felca viralizou com mais de 20 milhões de views, o Instagram dos envolvidos caiu, o Ministério Público se mexeu e o Congresso começou a falar em leis para proteger menores online.
E aí veio o plot twist: políticos de direita — aqueles que sempre foram contra discussão de gênero nas escolas — correram para apoiar Felca. A ironia? A tal “discussão de gênero” que eles demonizam é justamente parte da solução para prevenir abusos como os que Felca denuncia.
Pra quem ainda acha que é “ideologia” ou “doutrinação”, vamos aos fatos: discussão de gênero significa ensinar, desde cedo e de forma adequada à idade, o que é respeito, consentimento, limites do corpo, diversidade e como identificar situações abusivas. É dar à criança vocabulário e coragem para pedir ajuda. É prevenir que ela se torne vítima — ou agressor. Em resumo: é segurança, não política partidária.
Enquanto isso, Felca virou alvo. Recebe ameaças pesadas, anda com segurança e carro blindado. Disse no Altas Horas: “Quem tem que ter medo são eles.” É aquela frase que parece filme, mas aqui é só o retrato de como no Brasil de 2025 defender criança pode ser mais perigoso do que expor e comprar o apoio dos pais.
No meio de tudo isso, uma pergunta fica: se temos influenciadores com alcance de milhões, por que tão poucos usam essa força para melhorar a vida de quem segue? Felca prova que é possível ser pop e ser relevante, ganhar view e ganhar respeito. É o tipo de influência que não vende só produto, vende consciência.
Ano que vem é ano eleitoral, e já tem muito oportunista surfando na onda da “proteção infantil” como se fosse novidade. Por isso, vale o alerta: separar quem luta de verdade de quem está apenas posando para foto é questão de saúde pública. Criança não precisa de hashtag bonita. Precisa de proteção concreta, dentro e fora das redes.

Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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