Preta Gil: no dia do amigo partiu quem viveu suave como um furacão
Instagram @pretagil
No Brasil, o domingo do amigo terminou mais silencioso. Preta Gil se despediu de nós justamente no dia que celebra aquilo que ela cultivou como ninguém: amizade, laço, rede de afeto. Partiu aos 50 anos, depois de uma luta pública, intensa e corajosa contra um câncer no intestino. E deixou muito mais que canções — deixou lições vivas de coragem, liberdade e amor-próprio.
Preta viveu grande. Foi filha de gigante, mas nunca se escondeu atrás de sobrenome. Fez do seu corpo território de luta e várias formas de amor. Falou de prazer, de dor, de política — cantou carnaval, levantou bandeiras, caiu, levantou, sambou de novo. Foi traída quando mais precisava de cuidado, mas ensinou a gente que traição não derrota quem se ama de volta.
Ela abriu sua batalha contra a doença sem pudor: dividiu a rotina de hospital, as lágrimas, o medo real da morte — mas dividiu, sobretudo, o que nos salva dela: amizade, riso, fé, família de sangue e de escolha. Deixou claro que rede de apoio não é curtidinha de Instagram: é força vital quando tudo treme.
Quando foi traída, foi abraçada. Quando chorou, foi acolhida. Quando gritou que queria viver, tinha multidões ao lado dela. E não foi só porque era famosa — mas porque, antes de tudo, Preta era humana, intensa, sem vergonha de ser frágil ou extravagante.
No domingo do amigo, Preta partiu. Mas não vai sozinha: deixa espalhado em cada um de nós o lembrete de que viver é mais urgente do que qualquer escândalo. Que ser mulher, preta, gorda, livre — tudo isso junto — num país que ainda prefere mulheres caladas, é ato de revolução diária.
Ela foi a festa que ocupou avenidas. Foi a voz que disse “eu sou eu”. Foi a gargalhada escancarada, a coragem de mostrar vulnerabilidade. Foi o colo de amiga, a mãe do Fran e a avó da Sol de Maria compartilhada, o conselho de irmã, o ímã de quem precisava lembrar que alegria também é resistência.
Preta Gil partiu no dia do amigo. E se tem uma certeza que fica é que ela não sai do coração de quem foi alcançado por sua voz, sua força, seu jeito de existir. Vai ser lembrada em cada bloquinho de rua, em cada microfone aberto, em cada mulher que decide amar a si mesma primeiro.
Obrigada, Preta. A gente segue aqui, mantendo viva a parte que você nos ensinou: não há dor que derrote quem planta (só) amor por onde passa (suave como furacão).

Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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