O legado do Superman nos cinemas
Com o lançamento de Superman na última quinta-feira (10), o maior herói de todos os tempos voltou à tona com uma adaptação ao nível que o personagem merece. Por meio de uma nova roupagem, o diretor James Gunn conseguiu trazer de volta aos cinemas um Clark/Kal-El/Superman mais humano, que se importa com todos os seres vivos, comete erros e coloca a sua moralidade acima de qualquer adversidade.
A grande virtude do novo filme é o resgate ao que está intrínseco ao personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster. Ao longo dos anos, a imagem do Superman foi, de certo modo, corrompida por obras como Injustice, Homem de Aço, Invencível e The Boys, que apresentaram uma proposta diferente, mas não necessariamente realista, de como seria a dinâmica de um ser ultrapoderoso convivendo em sociedade com a raça humana.
Injustice (2021). Reprodução: Warner Bros. Animations
A partir dessa nova adaptação, a comparação com as demais versões que o personagem possuiu ao longo das décadas no cinema é inevitável. Portanto, me propus a fazer essa rememoração por meio da maratona Superman dos principais lançamentos envolvendo o personagem desde 1978 até 2025, para entender e explicar o legado que o personagem construiu na sétima arte.
O filme que fez as pessoas acreditarem que o homem pode voar
“É um pássaro? É um avião? Não, é o Super-Homem!” Não existe nada mais clássico do que essa frase e Superman - O Filme (1978) como um todo. O primeiro marco do super-herói nos cinemas foi por meio da adaptação de Richard Donner e da interpretação de Christopher Reeve, que eternizou nos cinemas não só a base para o personagem, mas também para todos os filmes de herói que viriam logo em seguida.
Fica clara a distinção entre Clark Kent, um repórter atrapalhado, sem atitude e medroso, e Superman, um homem posturado, confiante e corajoso. Como não lembrar da icônica cena em que Clark retira os óculos e muda totalmente a postura e a forma de agir no momento em que se “transforma” no Superman?
Superman - O Filme (1978). Reprodução: Warner Bros. Pictures
Embora em sua fisiologia o personagem seja um kryptoniano, portanto um extraterrestre, o seu principal elo é com a Terra e seus habitantes. Esse Superman apresenta aquela figura clássica do escoteiro, defensor dos oprimidos, da bondade e da esperança. O “S” no seu peito vem da casa de El, em Krypton, e simboliza a esperança, coisa que o roteiro e a história reafirmam a todo momento, como uma forma de respeito ao personagem e aquilo que ele representa.
O retorno, com um novo ator
Após Superman 4 - Em Busca da Paz, lançado em 1987, Christopher Reeve iria então se despedir do personagem no cinema e haveria um hiato de alguns anos. Uma nova adaptação no final dos anos 90, intitulada “Superman Lives”, seria dirigida por Tim Burton e contaria com Nicolas Cage como o Homem de Aço, mas a ideia não seguiu adiante e o projeto foi cancelado antes mesmo de ver a luz do dia.
O resultado disso é que o personagem só voltou a aparecer em um filme no ano de 2006, com Superman: O Retorno, que agora seria interpretado por Brandon Routh, o ator que eu considero como o pior Superman do cinema. O longa tinha a proposta e a responsabilidade de continuar a história dos filmes do Superman de Christopher Reeve, um fardo talvez ambicioso até demais!
Brandon Routh se esforçou, isso é inegável, mas ele não tem o mesmo carisma e o mesmo nível de atuação do Christopher Reeve. O personagem se apoia somente na parte visual, que é sim bastante convincente, mas não o suficiente para sustentar um filme que não tem nem um roteiro e nem uma trama cativante ou inovadora. No contexto em que o filme foi lançado, o cinema de super-heróis estava bastante diferente e a obra não conseguiu se destacar.
Uma nova perspectiva do herói
Após o sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel, com filmes como Homem de Ferro (2008) e Os Vingadores (2012), a DC percebeu que valia a pena investir nesse modelo de universo compartilhado em que vários filmes dialogam entre si. A decisão foi de passar o controle criativo para o diretor Zack Snyder, que havia dirigido filmes como Watchmen, 300 e Madrugada dos Mortos.
Nesse contexto foi lançado, em 2013, O Homem de Aço, que tinha o objetivo de trabalhar uma nova perspectiva do super-herói, algo mais “realista” e sombrio, diferente do status quo construído pelo personagem ao longo das décadas. Durante o filme, tanto a fotografia, quanto o roteiro e até mesmo as atuações são bem mais sérias e em alguns momentos inexpressivas. Ao decorrer da trama, há apenas uma cena marcante em que o Superman sorri, para exemplificar melhor esse ponto.
O Homem de Aço (2013). Reprodução: Warner Bros. Pictures
O problema se assemelha bastante ao do Brandon Routh, pois aqui o visual chega a ser ainda mais marcante que em comparação a Superman: O Retorno, mas o carisma e a atuação deixam muito a desejar. Diferente dessa outra obra, Homem de Aço consegue sim ser bastante divertido, com ótimas cenas de ação, um vilão marcante e um roteiro funcional. O grande pecado do filme foi no quesito adaptação, já que esse não era o personagem que as pessoas esperavam ver no cinema.
Novo universo, novo personagem
Após sucessivos fracassos no universo idealizado pelo Zack Snyder, a Warner tomou a decisão de encerrá-lo e começar tudo do zero novamente. Em 2022 foi criado o DC Studios e todo o comando foi passado para James Gunn, que anteriormente dirigiu a trilogia Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida e a série Pacificador
Novamente, o universo teria a sua estreia nos cinemas com um filme do Superman. O ator que herdou o manto do herói foi David Corenswet e a nova proposta, além de introduzir o personagem, era de apresentar ao grande público uma parte do que estava por vir nos próximos capítulos do Universo Cinematográfico da DC (DCU).
James Gunn conseguiu o mérito de resgatar tudo aquilo que se perdeu ao longo das metamorfoses que o Superman sofreu no decorrer das suas diversas versões. Ele é um herói, no cerne da palavra, tem o seu senso de moralidade elevado, coloca a vida alheia sobre a sua, e, acima de tudo, é muito mais homem do que super.
Com um tom mais leve e uma trama que se assemelha bastante à uma história em quadrinhos, a sensação não poderia ser outra senão a de que a justiça foi feita com o personagem. É um filme que empolga, emociona, possui ótimas atuações, personagens cativantes, uma excelente adaptação do Lex Luthor, o vilão mais famoso das histórias do homem de aço, e, por fim, uma obra que tem muito coração do início ao fim, assim como o próprio Superman.
Superman (2025). Reprodução: Warner Bros. Pictures
