A era das cinebiografias
Uma nova tendência que pode ser observada no mundo do cinema e da televisão são as cinebiografias. Nos últimos três anos, ao menos um grande lançamento anual do tema causou repercussões positivas tanto com o público, quanto com a crítica especializada. Embora as cinebiografias sempre tenham marcado a história da sétima arte, será que vivemos um momento em que elas estão mais propensas do que nunca?
No ano de 2022, destaco os lançamentos de Elvis e Os Fabelmans (autobiografia de Steven Spielberg). Em seguida, em 2023, os filmes Meu Sangue Ferve por Você (Sidney Magal), Napoleão e Oppenheimer. No ano de 2024, talvez o mais marcante para a categoria neste recorte, pudemos assistir à Back to Black (Amy Winehouse), Bob Marley: One Love, O Aprendiz (Donald Trump), Senna, Silvio e Um Completo Desconhecido (Bob Dylan).
No presente ano, até o momento, duas das mais comentadas foram Homem com H e Chespirito: Sem Querer Querendo. Com essas novas produções ficou ainda mais evidente que a tendência não gira em torno apenas de grandes celebridades e artistas estadunidenses e britânicos, mas também está se desenvolvendo cada vez mais a retratação de personalidades da América Latina no cinema e na televisão.
Homem com H. Reprodução: Paris Filmes
O perigo das “biografias chapa branca”
A expressão “biografia chapa branca” é cunhada a produções autorizadas pelo biografado(a) que acabam sendo parciais ou favoráveis à imagem da personalidade de uma forma excessiva. Informações e aspectos controversos e/ou negativos de sua vida são muitas vezes minimizados ou até mesmo omitidos, para que a figura não se desagrade com a sua retratação e a obra siga os seus interesses.
É justificável o medo que grandes produtoras têm de biografias mais “corajosas” que o convencional. O Aprendiz, por exemplo, foi alvo de diversas críticas por parte de Donald Trump, que inclusive ameaçou processar os realizadores da sua biografia não autorizada. O efeito acabou se mostrando contrário à tentativa de coibição, já que as falas públicas ajudaram a divulgar o filme.
O Aprendiz. Reprodução: Gidden Media
Outro problema que as cinebiografias estão sujeitas é a exagerada síntese de um grande recorte da vida dos biografados. É praticamente impossível resumir toda a vida e a obra de uma pessoa em um filme de duas, ou até mesmo três horas. Mas, de forma contraintuitiva, grande parte das obras do gênero que são lançadas se propõem a fazer isso, resultando na omissão proposital de algumas partes de sua vida e, aquelas que realmente são retratadas, correm o risco de serem subdesenvolvidas.
Olhando por outra ótica, é preciso reconhecer o poder de influência e o impacto dessas obras ao potencializar o reconhecimento de figuras marcantes da arte e política mundial. Assim como qualquer outro filme, as cinebiografias estão sujeitas à defeitos, entretanto, por se tratar de um tema sensível, que dialoga diretamente com a imagem que o público molda sobre as personalidades, o cuidado, em especial na curadoria, deve ser redobrado e não se limitar somente a visuais e trejeitos do biografado.
