Uso de IA na elaboração de roteiros é um barato que sai caro

*O conteúdo desta coluna não possui nenhuma parcela de participação de IAs generativas

Um relatório do Instituto de Cinema Britânico (BFI) divulgado pelo jornal The Guardian denunciou que mais de 130 mil roteiros de séries e filmes já foram utilizados para treinar Inteligências Artificiais (IA) generativas. A maior parte dos roteiros foi coletada sem autorização prévia dos seus detentores e a quantidade de propriedade intelectual acumulada nos bancos de dados cria complicações não só legais, como éticas.

Por mais surpreendente que isso seja, o fator mais preocupante não foi nem a quantidade de roteiros que foi coletada e nem um suposto uso indevido de criações de terceiros, mas sim como as IAs generativas estarão quando o treinamento for concluído. Será possível diferenciar um roteiro escrito por um homem de um roteiro escrito por um prompt?

Ao vislumbrar essa visão de futuro, não só é possível imaginar um cenário em que profissionais da área sejam substituídos, como também a forma como isso poderá passar batido para o público em geral. Como um espectador irá reconhecer a porcentagem de participação de uma IA na produção de um filme ou série? Talvez hoje haja uma grande discrepância no produto final com e sem participação humana, mas o questionamento é se isso permanecerá da mesma forma no médio e longo prazo.

Mais e mais dúvidas surgem nesse debate, assim como surgiram durante a trend de imagens emulando o estilo do Studio Ghibli. Mesmo com filmes como O Brutalista, que utilizou IA para ajudar as vozes dos atores nos sons de fonemas da língua húngara, o uso da ferramenta no cinema ainda não é uma realidade que vivenciamos.

À medida que os modelos generativos avançam em dois passos, as leis de proteção do usuário e de direitos autorais parecem engatinhar. O que o BFI descreveu como “ameaça direta” ao setor audiovisual britânico possui chances reais de escalonar para uma ameaça a todo o mercado ocidental, que já está em crise de criatividade e cada vez mais inflaciona os valores de produção de uma forma injustificável.

Reprodução: Universal Studios


Allan Victor

Formando do curso de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Fundador do canal do YouTube sobre cultura pop e história intitulado Pop Show TV.

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