Entre matérias, Entre Linhas

Um rascunho sobre um ano de jornalismo na Mega, encontros com a literatura e outras linhas que me atravessaram até aqui

Não sei quando — ou se — este texto será publicado. Mas o escrevo na quarta-feira, 16 de abril, um dia depois de perceber que já estou na Mega Rádio há um ano (!). 

Pensei em transformar esse marco em uma coluna porque, nesses 365 dias, muita coisa mudou, e não só a minha relação com o jornalismo. Foi aqui que minha forma de olhar para a literatura também se transformou. Isso só foi possível porque me aproximei, pela primeira vez, de escritores locais e entrei num diálogo que, antes, parecia um mundo à parte. Esse contato, ainda novo, mas inegavelmente rico, talvez tenha sido meu maior ganho nesse estágio.

Uma breve recapitulação

Cheguei à Mega em meio a um cenário caótico: eleições municipais em Vitória da Conquista (quem viveu, sabe). A missão principal era cobrir política, o que, pra mim, nunca foi um problema. Fiz três semestres de Ciência Política (curso que hoje está trancado, mas que pretendo retomar) e sempre me interessei pelo assunto. Logo nos primeiros dias, deixei bem claro o tipo de jornalismo em que acredito e quero fazer. Por sorte, encontrei pessoas que pensavam parecido e, mais do que isso, me incentivaram — e continuam me incentivando — a ser uma jornalista e uma pessoa melhor.

Nos dois primeiros meses, aprendi muito com Danilo Souza, meu colega de redação e também colunista aqui do site, e com Fábio Agra, nosso antigo diretor de jornalismo. Preciso ressaltar que o factual sempre me atraiu. Gosto de apurar, de acompanhar o cenário político da cidade, de entender o que se passa. Mas, no fundo, o que eu amo mesmo é escrever com mais liberdade e falar do que faz meu coração acelerar. Falar de livros, de leitura, de linguagem, e todo o resto.

Foi aí que, ainda com certa timidez, sugeri a criação de uma coluna. Felizmente, a ideia foi bem recebida desde o início pela redação da Mega. Apoiaram cada rascunho, acompanharam meus surtos perfeccionistas, participaram do meu dilema para escolher um nome. E foi assim — com muitas dúvidas, revisões e inseguranças por me lançar como colunista com apenas dois meses de estágio — que nasceu o Entre Linhas. Um projeto que, mais do que um espaço de escrita, é, de certa forma, um pedaço de mim.

Foi no Entre Linhas que, pela primeira vez, tive um espaço que era só meu — embora demorasse a acreditar nisso. Nas pelo menos cinco primeiras colunas, eu só conseguia escrever depois de ouvir os meus colegas: queria saber o que podia ou não podia dizer, o que estava certo ou errado. A resposta era sempre a mesma: “A coluna é sua. Faz o que você quiser!”

Desde então, sigo escrevendo. Não mais com a frequência planejada de uma publicação quinzenal, mas sempre que escrever aqui volta a fazer sentido para mim. E, a cada novo texto, tenho a mesma certeza: ele é o meu favorito — até que venha o próximo. Não porque um seja melhor do que o outro, mas porque, em cada um, descubro uma parte minha que ainda não conhecia antes de ele ser publicado.

Graças à coluna, também tive a oportunidade de me aproximar de autores locais. Participei de encontros literários, conversei sobre escrita com pessoas que admiro, não só pela trajetória, mas pelo modo de ser e estar no mundo. Esses momentos ampliaram meu olhar sobre o fazer literário e tornaram o processo de escrever menos solitário.

Um ano pode não ser muito. Mas foi tempo suficiente para reafirmar, agora com os pés no chão da prática e não só nas teorias da sala de aula, que o jornalismo é lugar de escuta, de presença, de troca. De sentir e fazer sentido.

Continuo transitando entre editorias, coberturas e entrevistas. Continuo, principalmente, Entre Linhas. E, talvez, seja justamente aí que eu mais me encontre. Quem diria. 


Ane Xavier

Estudante de Jornalismo e Ciência Política, apaixonada por comunicação e sempre com um livro em mãos. Também fala sobre leituras no instagram @booksbyane.

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