Lágrimas do Patriarcado (servir quente, sem açúcar)

Foto: Brazil News

Tem gente que ressurge na mídia como quem brota do túmulo: não muda nada, só volta a feder. Nos bastidores do remake de Vale Tudo, Cauã Reymond parece estar interpretando um personagem que não recebeu: o da masculinidade ferida. 

Primeiro, bateu de frente criticando a atuação de Bella Campos, que não temeu denunciar o mal comportamento do colega à direção da novela. Depois, o atrito se estendeu a Humberto Carrão — um dos únicos atores que a gente ainda tem coragem de elogiar sem engasgar -, por ter tocado no ator durante uma conversa — e recebeu de volta um “não encosta em mim”. 

Não é cena de ciúme em novela das seis, é bastidor de trabalho. E ali, o script invisível do patriarcado segue à risca: tensão, masculinidade frágil disfarçada de “perfil reservado”.

Enquanto isso, as ex-mulheres de Cauã não perderam o timing — nem a lucidez. Mariana Goldfarb, que já teve lugar cativo nessa novela da vida real, usou as redes pra falar do alerta que tinha feito sobre misoginia, violência e machismo. Já Grazi Massafera, mãe da filha do ator, escolheu a sutileza de uma xícara. Estampada: “lágrimas do patriarcado”. Legendada: “cafezin”. Mas o recado? Amargo. Direto. Quente.

O patriarcado é esse sistema onde os homens podem ser grosseiros, autoritários, explosivos — e ainda assim, manter o posto de galã. Onde as mulheres precisam ser resilientes, silenciosas e coerentes, até quando estão sendo destruídas por dentro. É esse acordo social não verbalizado onde agressividade é virilidade e sensibilidade é fraqueza. Um teatro onde só os homens ganham o papel principal, ainda que a atuação seja péssima.

E já que estamos na semana da Páscoa, vale lembrar que ressuscitar também é verbo possível pra quem não é filho de Deus: ressuscitar a crítica, o senso de justiça, o afeto pelas mulheres que cansaram de ser coadjuvantes na própria história. Porque a cruz já foi nossa demais, e os pregos continuam vindo em forma de silêncio, gaslighting e agressões disfarçadas de mau dia.

Páscoa é tempo de renascimento. Mas também pode ser de desencantamento. Porque entre ovos decorados e promessas de renovação, é bom lembrar: tem homem que nunca saiu da caverna. E tem mulher que cansou de carregar pedra.

Que esse domingo sirva mais que chocolate — sirva reflexão. Que a gente brinde coragem. Porque patriarcado se enfrenta assim: na arte, na fala, na denúncia e na sutileza debochada de um “cafezin”.

Amém.


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

Comentários


Instagram

Facebook