Fiscalização x Taxação: Uma Guerra da (falta de) Comunicação

Reprodução: Jornal Cidade

Mais uma semana insalubre para quem se mantém minimamente informado no Brasil. Isso porque, no país onde a criatividade sempre vence o tédio, o Pix — amado e celebrado como o salvador das transferências instantâneas — tornou-se o protagonista de um reboliço, com direito a reviravolta de cair o c*. Tudo começou com um rumor: "O governo vai taxar o Pix de quem movimentar R$ 5 mil!". Não importava que não fosse verdade; o medo dos impostos se tornou maior e pior que o do Serasa. 

Nikolas Ferreira, deputado, influencer de polêmicas e nunca à favor dos direitos e anseios da população mais pobre, lançou um vídeo com teor emocional, com ares de denúncia, em que pouco importou seu histórico. A mensagem era simples, inflamável e viral: o governo estaria prestes a assaltar o bolso do povo e o pix poderia ser taxado. Bastou isso para que a internet explodisse em desespero, protestos e, claro, muito repost. No turbilhão de cliques, a diferença entre fiscalização e taxação virou poeira no tempo.

"Uma mentira dá a volta ao mundo enquanto a verdade ainda calça os sapatos". E assim, o governo, que deveria ter preparado uma campanha informativa há meses, foi pego de calças curtas e pareceu apático e ineficiente para negar a taxação e combater as mentiras. A proposta de aumentar o valor de fiscalização de transações suspeitas, a fim de aprimorar o controle fiscal e combater a sonegação foi estragada com sucesso. Com a pressão da confusão, uma medida conduziu o recuo da Receita Federal. O plano de subir o valor mínimo de fiscalização de pessoa física de R$ 2 mil para R$ 5 mil, e de pessoa jurídica de R$ 6 mil para R$ 15 mil, foi descartado. E assim, o ruído venceu a razão.

Mas o que isso revela? Primeiro, que a esquerda — com quem quer que esteja no poder — ainda patina quando o assunto é comunicação direta, clara e eficiente, enquanto a direita nada de braçada. Em tempos de redes sociais, não basta estar certo; é preciso ser rápido e simples. Nikolas entendeu isso. O governo? Precisa entender que na guerra da comunicação, quem grita mais alto nem sempre tem razão, mas certamente tem mais audiência.

O problema é que, enquanto a desinformação circula com memes, vídeos curtos e frases de impacto, os esclarecimentos vêm com comunicados que rebatem ao tempo que ajudam a divulgar boatos e entrevistas que só um bom entender compreenderia. Convenhamos, quem ganha essa disputa é óbvio: o lado que domina o terreno de onde dói na maioria, mesmo que à custa da verdade.

O brasileiro segue refém de sua própria pressa e, às vezes, preguiça. É fácil compartilhar um vídeo alarmista; é mais difícil buscar a fonte, checar os fatos, entender o contexto. Nesse caso, o preço da irresponsabilidade foi um recuo que custará a permanência das fiscalizações em valores ultrapassados. Uma vitória da desinformação e uma derrota para todos nós. 

No fim, o episódio é mais que uma anedota sobre o Pix; é um lembrete de como a comunicação — ou a falta dela — molda a realidade. Num mundo onde a verdade precisa contornar uma enxurrada de mentiras, talvez o maior desafio seja convencer as pessoas de que pensar, antes de clicar, também é um ato revolucionário.


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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