O que eu aprendi produzindo NILO, meu disco de estreia (e de despedida)

Já faz um pouco mais de um ano que eu escrevo sobre música, mas aposto que muitos leitores não fazem a mínima ideia que eu já estive “do outro lado da ponte” e produzi músicas durante um período de cinco anos e lancei neste ano o meu álbum de estreia, o NILO. Depois de tanto falar sobre álbuns de outros artistas, hoje é vez de trazer um pouco das minhas próprias experiências ao longo desse processo e compartilhar sobre o que eu aprendi gravando um disco completamente sozinho.

NILO (2024), álbum de estreia de Danzzz.

Todo disco precisa ter um conceito?

Bom, para mim, a arte não tem regras. Você pode muito bem colocar dez faixas sem conexão nenhuma, seja sonoramente falando ou relação aos seus temas, em um mesmo projeto e chamar isso de disco, como também pode explorar as raízes “Pink Floydianas” e fazer uma super obra com início, meio e fim e que perde todo o sentido se não escutar na ordem certa.

Em meu disco, há um conceito que começa a partir do nome. A essa altura, acredito que todos já tenham percebido que NILO vem do meu nome, Danilo, mas a escolha de usar justamente esse apelido tem um motivo especial que molda todo o significado deste trabalho. É um apelido mais íntimo, mais pessoal, que só meu pai e meu irmão costumam usar, então escolhê-lo simboliza mostrar que este não é um disco sobre o Danilo, enquanto (quase) jornalista ou o Danzzz, meu pseudônimo, e sim sobre a criança interior, o garoto que realizou um sonho de ser um artista. Essa ideia é reforçada, também, pelo fato do álbum ter sido lançado em 9 de setembro, o meu aniversário.

Nomes das faixas e o seus significados

NILO é um disco consideravelmente curto, com dez músicas e um pouco mais de vinte minutos de duração. Apesar de ser um fã de álbuns conceituais sonoramente, aqui, as faixas não necessariamente se interligam neste sentido, mas cada uma delas tem o seu próprio significado individual. 

PREDESTINADO (faixa um)

A primeira faixa, PREDESTINADO, possui um ritmo um pouco intimista. Aqui, os primeiros aspectos do conceito por trás do disco começam a aparecer, ao remeter o significado do título da canção (predestinado é o termo usado para se referir a uma pessoa destinada por forças divinas para alcançar a glória ou a realização de grandes coisas) com o fato de que eu realmente consegui ter uma carreira de sucesso em números e em objetivos pessoais de uma forma natural, como se já estivesse marcado para acontecer. 

Optei por um sample mais ambiente, meio “low-profile”, com uma energia de preparação para o que virá ao longo das faixas. Ainda nos primeiros segundos, surge um áudio gravado por um dos meus melhores amigos, com palavras positivas e que intensificam os objetivos pessoais, materiais, e, sobretudo, espirituais do NILO.  

MALANDRO (faixa dois)

MALANDRO abre a sequência de faixas voltadas ao boom-bap no disco. Com samples, recortes e baterias um pouco mais “sujas”, a produção se torna um pouco mais livre e traz um aspecto de “rua” para o trabalho. A faixa ganhou esse nome através de um recorte de áudio que ouvi (e que também já foi usada em diversas outras músicas), o “malandro é uma coisa, vagabundo é outra!”. Então, o significado dessa canção anda por esse caminho, de ver a malandragem como um jeitinho de escapar dos problemas e os imprevistos que possam causar algum tipo de atraso em nossas vidas sem se abalar e dessa forma estar sempre um passo à frente. O bom e velho jeitinho brasileiro.

TROFÉU (faixa três)

A terceira faixa, TROFÉU, possui inspirações nos instrumentais utilizados por alguns rappers nacionais, principalmente o Marcelo D2 e Emicida. Quando escutei a música que posteriormente se tornou o sample dessa faixa, a “Na Boca do Sol”, de Arthur Verocai, me veio uma baita sensação de “isso aqui é para você escutar quando sabe que venceu!”. A forma como utilizei o sample fez com que a energia ficasse bem alta, no sentido positivo da coisa, ainda mais dentro desse conceito em que o NILO é dedicado para a minha versão criança. É para escutar quando você sabe que venceu e ele sabe que venceu! 

DEVANEIO (faixa quatro)

DEVANEIO apresenta os primeiros toques de psicodelia do disco, que, a partir deste ponto, irão ficar mais aparentes a cada faixa. Ela ainda se encaixa dentro das faixas de boom-bap, mas com um sample que volta a ser um pouco mais intimista e não tão “pra cima” com os das faixas anteriores. É o início para uma viagem dentro da mente do eu lírico e que irá se aprofundar cada vez mais na busca por um sentido na vida, como a criança que começa a crescer e desbravar o mundo. 

INCÓGNITA I DEMO (faixa cinco)

Esta não é uma faixa inédita, mas eu a encontrei em uma versão demo (versão de demonstração, algo como a primeira versão gravada da canção) por acaso em meio à construção do disco e ela me fez viajar de volta a um dos projetos mais pessoais da minha carreira, o Incógnita, e então decidi incluí-la dentro do conceito. É uma faixa sobre a dificuldade em lidar com o passado e também serve como o início de uma transição para faixas, que, ironicamente, irão trazer questionamentos sobre a dificuldade em lidar com o futuro, em referência à ansiedade, e as diversas possibilidades que podem existir através disso. 

O LADO ESCURO DA LUA e FRENESI (faixa seis e sete)

Inspiradas no Pink Floyd, desde o nome, em referência ao álbum The Dark Side of The Moon, até os detalhes sonoros, como a respiração ofegante e batimentos cardíacos, as faixas O LADO ESCURO DA LUA e FRENESI devem ser analisadas em conjunto, pois essas, sim, se interligam sonoramente. 

O LADO ESCURO DA LUA marca, de fato, a viagem em busca de si mesmo, usando a metáfora do lado escuro da lua como a parte desconhecida e nunca vista de algo que conhecemos de algum modo. Neste caso, eu estava em busca da parte desconhecida e inexplorada de mim mesmo. Dentro do conceito, ela funciona meio que como um interlúdio, uma parte do caminho que levará até FRENESI, uma canção sobre a ansiedade e a sensação de estar fora de si após pensar demais sobre tudo o que poderá acontecer e se perder nos próprios pensamentos.  

KEEP TRYING [PERFOMANCE] e BAHIA [PERFOMANCE] (faixas oito e nove)

De volta ao presente após a viagem entre passado e futuro do NILO, as faixas KEEP TRYING e BAHIA, músicas já lançadas anteriormente, reaparecem agora em versões mais intimistas em uma performance de violão e dão espaço ao Danilo instrumentista, deixando um pouco de lado o Danzzz beatmaker, como o primeiro sinal de que algo está próximo de ficar para trás. 

VERANO (faixa dez)

VERANO é uma faixa inédita e que fecha o disco com positividade. Entre todos os altos e baixos vividos em uma carreira de cinco anos e todas as suas fases, como o boom-bap, os instrumentais introspectivos e as tentativas experimentais, essa canção é como saber que chegou a hora de “tirar férias” e curtir as coisas boas que surgiram ao longo de tanto tempo de trabalho. Para ouvir na praia, com os pés na areia, o vento na cara e sem estar preocupado sobre qual vai ser o próximo passo. 

O que eu aprendi

Ao fechar o ciclo da minha carreira com um álbum sobre tudo o que eu fiz e fui durante todos esses anos, percebi que este disco é projeto de uma vida inteira e que a criança que existe em mim segue mais viva do nunca, agora com novos objetivos, ambições e metas que podem resultar em novas conquistas e decepções, mas que, com certeza, serão aprendizados para o Danilo, enquanto (quase) jornalista, o Danzzz, enquanto um artista, e principalmente para o NILO, o menino que cresceu e percebeu vivendo que era possível realizar e viver um sonho.


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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