Como a ambição fez Michael Jackson vencer oito grammys na mesma noite com o álbum “Thriller”

Sexto álbum de estúdio de Michael Jackson, em ascensão na carreira solo após o lançamento do disco Off The Wall (1979), o Thriller (1982) é um verdadeiro marco na indústria musical nos aspectos de produção, técnica e vendas comerciais. A parceria entre o produtor Quincy Jones e Michael, explorada durante as nove faixas, que, somadas, chegam a um pouco mais de quarenta minutos de duração, e a ambição de Michael em querer conseguir mais após uma “derrota” foram alguns dos fatores que colocaram o Thriller para sempre como uma referência de qualidade.

O que veio antes de Thriller

Michael Jackson veio de um berço musical forte, tendo participado da banda Jacksons Five, ao lado dos seus irmãos, quando ainda era criança. Os primeiros passos para o sucesso foram trilhados já nessa época e era visível para qualquer um que havia um destaque naquele conjunto. Após atrair olhares da mesma gravadora onde atuava enquanto integrante do Jacksons Five, Michael gravou os seus primeiros álbuns solo, Got to Be There e Ben, ambos lançados em 1972. Outros dois álbuns foram lançados nos anos seguintes, Music & Me (1973) e Forever Michael (1975), os antecedentes do seu primeiro grande trabalho bem-sucedido em críticas e em números, o Off The Wall, que fechou a década de 1970, sendo lançado em 79.

Apesar disso, naquele momento, isso não foi suficiente para Michael. O artista planejava alcançar a premiação de Gravação do Ano, do Grammy, a maior celebração da música mundial, mas não venceu na ocasião, fazendo com que ele se sentisse subestimado pela indústria em um contexto onde as questões raciais também podem ser levadas em consideração. Em 1980, Michael perguntou a um jornalista da revista Rolling Stone se eles teriam interesse em publicar uma matéria sobre ele na capa, mas o pedido foi negado, já que, segundo o jornalista, “pessoas negras em capas de revistas não vendem cópias”.

O processo de criação de Thriller

Para gravar o álbum sucessor do Off The Wall, Michael se reuniu novamente com Quincy Jones e juntos trabalharam em trinta canções, gravadas no Westlake Recording, em Los Angeles, na Califórnia. Apesar das três dezenas de músicas gravadas, apenas nove foram para a versão final do disco. Aqui, a qualidade importava mais que a quantidade. Aquele ambicioso Michael buscava um trabalho refinado, uma obra-prima para a eternidade.

Além da faixa-título, Thriller, o álbum emplacou, ainda, as canções Beat It e Billie Jean, por exemplo. O ex-beatle Paul McCartney é a única participação especial do álbum e colaborou com Michael na faixa The Girl Is Mine.

Thriller transita por vários estilos musicais ao longo das nove faixas, mas possui uma proeminência para o funk e o pós-disco, com canções dançantes, como P.Y.T (Pretty Young Thing) e Baby Be Mine. Já outras tendem a ir pelo caminho do rock, a exemplo da própria Beat It, que ganhou um solo de guitarra de Eddie Van Halen, da banda Van Halen. Há ainda espaço também para baladas mais lentas, como Human Nature e The Lady In My Life.

A recepção de Thriller pelo público e pela crítica

O disco foi lançado em 30 de novembro de 1982 em cinco países, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália e Japão. No dia seguinte, ficou disponível para toda a Europa, Ásia e Oceania. Para os outros países da América, Thriller chegou em 2 de dezembro, dois dias depois do seu lançamento oficial. Um fato curioso é que praticamente todas as faixas (sete das nove presentes no trabalho) foram lançadas anteriormente como single. O primeiro deles foi o feat com Paul McCartney, que teve um bom desempenho, mas que nem se compara com o single que veio a seguir, Billie Jean, um sucesso imediato, liderando o top 100 das músicas mais tocadas dos Estados Unidos durante sete semanas seguidas.

Thriller foi bem aceito tanto pelo público, quanto pelos críticos musicais. A revista Rolling Stone e a Billboard avaliaram o disco de forma positiva, enquanto o jornal The New York Times deu uma nota quatro, em uma escala de zero a cinco, para o LP. Em 2009, ano da morte de Michael, o disco havia recebido vinte e nove certificações de platina, marcando cerca de 30 milhões de vendas só no território estadunidense. As estatísticas mais atuais datam que Thriller vendeu, pelo menos, 70 milhões de cópias em todo o mundo. Alguns chegam a afirmar que esse dado já passou dos 100 milhões de vendas.

O reconhecimento

Se a frustração de Michael após não ter vencido um Grammy com o Off The Wall ainda existia, provavelmente ela se dissolveu na premiação do ano de 1984, quando o artista faturou oito prêmios na mesma noite, entre eles o Álbum do Ano. Ainda em 84, Jackson também ganhou oito American Music Awards e três MTV Video Music Awards, que premia os melhores clipes do ano.

Para muitos, ser premiado com os seus clipes foi um grande feito de Michael, por ser um artista negro em meio a uma programação dominada por artistas brancos na MTV. Foi necessário que o presidente da CBS Records, a gravadora que possuía contrato com Michael naquele momento, Walter Yetnikoff, pressionasse a emissora para realizar a transmissão dos clipes, que passou a exibir o clipe de Billie Jean e, posteriormente, o de Beat It.

Mesmo com 14 minutos de duração, quase um curta-metragem, o clipe da faixa-título, Thriller, foi um sucesso e era exibido duas vezes a cada hora para atender a demanda de pedidos recebidos pela MTV. Apesar do sucesso do clipe, inicialmente, a gravadora não apoiava a ideia de lançar um terceiro videoclipe, já satisfeitos com o sucesso dos dois anteriores. Para que o videoclipe de Thriller fosse lançado, Michael entrou em acordo diretamente com a MTV, que financiou todo o processo de gravação. Hoje, o clipe é um dos mais memoráveis da história da música por sua ambientação sombria e os passos de dança de Michael Jackson.

O tempo fez com que o álbum ficasse ainda melhor. Em 2003, vinte anos depois do lançamento original, Thriller aparecia na 20ª posição entre os 500 melhores discos da história da música, em uma lista da especializada Revista Rolling Stone, além de estar no top três dos 200 álbuns definitivos no hall da fama do Rock’n Roll. Em 2008, no aniversário de 25 anos, o disco também foi incluído no hall da fama do Grammy, se tornando um padrão de qualidade e de referência para nomes que vieram nas gerações seguintes, como Justin Timberlake, The Weeknd, Bruno Mars e outros artistas da indústria Pop.


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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