Todas as Bandeiras é um álbum para quem conseguiu perder o grande amor

Todas as Bandeiras, quarto álbum de estúdio da Maglore, banda formada em 2009, em Salvador, na Bahia, é, de longe, o melhor trabalho do grupo. Com músicas dançantes e uma história com início, meio e fim, o disco marca uma das fases mais bem-sucedidas do quarteto e é quase uma sessão de terapia para aqueles que estão enfrentando um fim.

Capa do disco "Todas as Bandeiras" (2017)

Antes de entrar de vez no enredo das canções, é importante lembrar que até o álbum anterior, o “III” (2015), a Maglore era um trio composto por Teago Oliveira (guitarra e vocais), Felipe Dieder (bateria) e Rodrigo Damati (contrabaixo), formato esse que também já havia gerado bons resultados, como as faixas “Ai, Ai”, que chegou a ser tema da novela Malhação, em 2017, além de “Café com Pão” e “Mantra”, que marcam presença entre as mais ouvidas da banda nas plataformas digitais até hoje. Entretanto, com a entrada de Lucas Gonçalves, assumindo o contrabaixo no lugar de Rodrigo, e Lelo Brandão como guitarrista, função que já tinha assumido também nos dois primeiros discos do grupo, a Maglore ganhou mais possibilidades sonoras que, enquanto trio, não eram tão viáveis nas apresentações ao vivo.

O disco

A mudança de trio para quarteto já pôde ser notada logo em “Aquela Força”, canção que abre o Todas as Bandeiras, que parece nos preparar para o que virá ao decorrer do disco. Com uma letra sobre vencer os medos e confiar no eu interior, a principal mensagem é que “aquela força que faça crer que o futuro será nosso amigo você só vai saber vivendo”.

As faixas parecem contar a história de um relacionamento, com o seu começo, o seu ápice e o seu melancólico fim. A começar por “Me Deixa Legal” - que também pode ter outras interpretações, basta olhar a capa da música no YouTube da banda, risos - que, no geral, conta sobre algo que é um ponto de fuga para o personagem. “Muita notícia, muita mentira, o mundo acaba e eu só penso em você, você me deixa legal”. Porém, já na faixa seguinte, “Jogue Tudo Fora”, todo o enredo já ganha um novo rumo; o que antes era um ponto de fuga e indispensável para a vida do personagem, agora já não é mais. Como em uma discussão acalorada, a letra é um desabafo em um daqueles momentos em que você fala tudo de uma vez.

“Você estragou e eu permiti [...]

Agora fique aí

Eu vou me mudar, estou indo embora

Pode ficar com as coisas ou jogue tudo fora”

Mas e quando a cabeça esfria e o arrependimento pelo o que foi dito bate? Nessa montanha-russa de emoções na vida do personagem, o que era indispensável, mas depois deixou de ser, agora volta a se tornar um pensamento com aquela sensação de que realmente acabou e não tem mais volta. Com uma letra sobre o fim das coisas e uma melodia alegre, a faixa “Eu Consegui” é daquelas para dançar chorando.

“Eu consegui, eu consegui perder meu grande amor

Eu consegui, eu consegui perder meu grande amor

Não faz mal, a solidão é um clássico

Foi eu mesmo que me destruí”

Com a aceitação do fim, chega o momento de se reestruturar e recomeçar a viver, relembrando daquela força que faça crer que o futuro será nosso amigo, em “Quando Chove no Varal”, a canção mais introspectiva do álbum, que aborda justamente sobre o processo de transição de esquecer alguém, os seus aspectos físicos e costumes que, um dia, fizeram parte da vida do personagem, mas, agora, são somente lembranças.

“Nessa árdua tarefa de ressignificar

O seu rosto tá sumindo e eu preciso caminhar [...]”

As duas últimas faixas do disco, “Calma” e “Valeu, Valeu”, são como o arco-íris que surge após a tempestade. A primeira delas é justamente uma composição de Lucas Gonçalves, que mesmo presente em pouco tempo na formação da banda, emplacou uma das melhores composições da discografia do grupo. Com referências a Beatles na letra e uma sonoridade que eu poderia resumir como “um dia bonito na primavera”, “Calma” é sobre respeitar o tempo certo de cada coisa e não pular fases.

“Let it be

Vai passar, mas é preciso calma

A pressa é um vício descontente [...]

Mas calma, pois tudo sempre encontra seu lugar”

Se motivando com aquela força e buscando a calma para que as coisas voltem a encontrar o seu lugar, em “Valeu, Valeu”, que fecha o álbum, é hora de agradecer por ter vivido, mesmo que com altos e baixos, e entendido que um fim nem sempre é um final. Com novas experiências na bagagem e preparado para um novo recomeço, é até possível rir dos próprios desacertos e levar na brincadeira para viver uma vida mais leve, mesmo depois de ter perdido “o grande amor”. Maglore, “valeu, valeu, valeu, valeu", por esse álbum, que está no meu top dez de favoritos desde o seu lançamento e que, com certeza, não vai sair tão cedo.

“Quero dizer também que cada companhia

E que o romance eterno que acabou um dia

Valeu, valeu, valeu, valeu, valeu, valeu!”


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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