Sim, o tempo urge!
Não sei vocês, leitores, mas eu ando atordoada. Pareço estar vivendo neste trecho da música de Nana Caymmi: "batidas na porta da frente, é o tempo…" Falta pouco mais de um mês para o ano acabar. Como assim? Desde o início de outubro, quando me deparei com panetones no supermercado, misturados aos apelos em função do dia das crianças, tenho sentido aquela incômoda sensação de ter um relógio em minha cabeça. Tic, tac, tic, tac!
Noutro dia, quando vi a decoração natalina de um shopping, um arrepio! Lembrei-me de uma das canções que marcaram minha infância e parte da minha adolescência. Mais precisamente, daquela parte em que a cantora Simone nos coloca pensativos: "Então é Natal! E o que você fez?" Misericórdia! Retrospectiva já!
Se pensarmos em todos os nossos planos do início de janeiro e no que fizemos para que eles se realizassem, certamente nos lembraremos dos diversos percalços e também das várias conquistas. É possível que muitas pessoas tenham tido a necessidade de mudar de rota, de traçar outros caminhos e, agora, olhando para trás, estejam percebendo o quanto foram corajosas! Portanto, ainda que tenhamos a sensação de que fomos atropelados por 10 meses em altíssima velocidade, estejamos com sequelas e ainda tentando entender como tudo se deu, se repararmos direitinho, coisas boas aconteceram no contexto profissional, pessoal ou familiar. Outro dia li em algum lugar, que, por mais desafiador que tenha sido, não devemos cancelar o ano que nos mostrou o quanto somos fortes.
Há ainda uma outra questão que me põe reflexiva: se tudo é tão urgente, se tantos são os compromissos, os projetos, as contas, como andam as nossas relações? Estamos dedicando tempo aos nossos afetos? Equilibrar essa balança pode ser difícil, mas é fundamental. Sempre tive medo de morrer sem que as pessoas que eu amo estivessem cientes do meu amor. Estou aqui pensando se em 2023 consegui demostrar meus sentimentos a ponto de não deixar nenhuma dúvida. Me ocorreu, neste exato momento, o poema “O tempo”, de Mário Quintana. E é com ele que finalizo, para deleite e ponderação!
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará”