Pink Floyd e a importância de derrubar os muros que nos isolam da sociedade

Lançado em 1979, o “The Wall” é o décimo primeiro álbum de estúdio da banda britânica Pink Floyd, um dos maiores grupos da história da música. O disco é o quarto lançamento da fase conceitual da banda, onde os álbuns eram trabalhados a partir de uma história que unia todas as músicas em um mesmo universo, e o contexto por trás do “The Wall” é uma verdadeira aula sobre os efeitos que traumas não resolvidos e o auto isolamento causam na mente humana.

Capa do álbum “The Wall” (1979)

Para entender o disco, primeiro é preciso voltar na turnê do álbum anterior, o “Animals”, de 1977. Com a grande quantidade de shows, a banda começou a se sentir cansada e enfrentou dificuldades de relacionamento com os seus próprios fãs. Roger Waters, baixista e considerado o líder do grupo, chegou a cuspir em um fã que o irritou por fazer barulho demais durante uma apresentação.

Nesse momento, o Pink Floyd era uma das grandes bandas do rock por conta do sucesso dos álbuns anteriores como “The Dark Side Of The Moon” e “Wish You Were Here” e por isso se apresentava em grandes estádios por todo o mundo, o que veio a se tornar uma coisa desagradável. Em uma conversa com o produtor musical da banda, Waters relatou que gostaria que houvesse um muro dividindo a banda do público durante as apresentações.

Pink Floyd durante apresentação da “In The Flesh Tour” (1977). 
Imagem Corbis/VCG via Getty Images

Esse foi um dos episódios motivadores para a criação do álbum e se tornou mais um tijolo em um muro que já estava em construção há muito tempo, isso porque o “The Wall” tem um viés autobiográfico que se inicia ainda na infância de Roger Waters, que perdeu o seu pai durante a Segunda Guerra Mundial. Além da ausência causada pela morte do pai, Waters também lidava com uma superproteção por parte de sua mãe, o que o dificultava se abrir para o mundo, uma questão abordada na faixa “Mother”.

“Acalme-se agora, filhinho, filhinho, não chore
A mamãe vai fazer todos os seus pesadelos se realizarem
A mamãe passará todos os medos dela para você
A mamãe vai manter você debaixo da asa dela”

“Another Brick In The Wall II”, uma das canções mais aclamadas do Pink Floyd, também é baseada em um trauma da infância surgido durante a época de escola do personagem, que lidava com professores autoritários e abusivos. Com os traumas já existentes e a criação de um novo trauma no ambiente escolar, o muro ganha mais um tijolo. O personagem se torna um adulto que é uma grande estrela de rock, mas que se perde no uso de drogas, na infidelidade e por surtos de violência causados por conta do seu estado de saúde mental ao longo da vida. Mais um tijolo é adicionado ao muro, que agora está completo e se torna uma fuga para que o personagem se isole do contato humano.

Cercado por problemas internos e isolado em seu próprio muro, o nível de insanidade do personagem se agrava e ele passa a se imaginar como um ditador fascista que direciona o ódio presente em si mesmo para outras pessoas, principalmente minorias. A fase “ditatorial” está presente durante as faixas “In The Flesh”, “Run Like Hell” e “Waiting For The Worms”. No período final, o personagem percebe o que ele se tornou e tudo o que foi causado por conta disso, e então é tomado pela culpa. Ele enfrenta um julgamento onde o juiz é o seu próprio eu interior, que lhe ordena derrubar o muro e se abrir para o mundo.

Pink, personagem principal do “The Wall”, durante a sua fase ditatorial

“The Wall” é bem mais que álbum. É uma experiência única de música e audiovisual, já que contava com shows teatrais onde um muro era levantado entre os fãs e a banda durante a apresentação, o que, de certa forma, era o que Waters tanto desejava na turnê anterior. Mas o mais importante: The Wall deixa como lição a necessidade de derrubar os muros que nos isolam da sociedade e do contato humano para que sejamos pessoas mais fáceis de lidar e, principalmente, de amar uns aos outros.


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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