MAIO LARANJA - PROTEJA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Foto: Divulgação
Por Lays Macedo
No mês de maio acontece a campanha de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, o Maio Laranja. Sim, qualquer situação de sexualização de menores de 14 anos é violência e não devemos lidar com o tema como exploração, mas, sempre, como violência sexual.
A origem da mobilização no mês de maio aconteceu a partir de uma história terrível, mas não rara no país. O crime ocorreu no estado do Espírito Santo, numa sexta-feira, 18 de maio de 1973, comum para a família de Araceli. Como sempre, a menina saiu de casa e foi para escola. Neste dia, saiu do colégio mais cedo, a pedido de sua mãe, para que conseguisse pegar o ônibus de volta para casa. No entanto, nunca mais voltou. O corpo de Araceli só foi encontrado no dia 24 de maio, totalmente desfigurado, em uma mata nos fundos do Hospital Infantil, em Vitória. Pelos exames periciais feitos no IML, concluiu-se que Araceli foi submetida a uma intoxicação por barbitúricos (um composto químico orgânico sintético usado como sedativo) e, pelos hematomas no corpo e machucados internos, foi vítima de violência sexual antes do seu homicídio. Estima-se que Araceli sofreu por 72 horas nas mãos dos criminosos. Todos os três suspeitos eram membros de famílias tradicionais e ricas do Espírito Santo, que recorreram à reputação econômica e social e a ligações com a polícia para abafar o caso e atrapalhar as investigações - e nunca chegaram a cumprir pena pelos crimes acusados. Em memória à data deste crime que ainda segue impune, foi instituído oficialmente no país o Dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes por meio da lei nº 9.970, de 17 de maio de 2000.
O Brasil é terrível para crianças. O país é o 4° no mundo com o maior número de casos de casamento infantil e o 1° da América Latina segundo levantamento do Banco Mundial. E sabe quem mais sofre com essa realidade? De acordo com o censo de 2010 do IBGE, 488 mil adolescentes do sexo feminino entre 15 e 17 anos viviam em uniões com características de matrimônio no Brasil (o número cai para 79 mil na mesma faixa etária do sexo masculino). Quais vulnerabilidades casamentos tão cedo trazem a meninas? Evasão escolar, gravidez precoce, maior chance de sofrer violência doméstica... Sabe o quê mais faz parte dessa cultura da pedófila que nós reproduzimos? Estupros! Lidar com crianças como mulheres reforça uma construção sexualizada precocemente e "estimula" ou "justifica" abusos cometidos contra elas ("mas, também, ela tem corpo/se veste/dança como uma mulher" NOJO). No Brasil, a cada hora, é registrada 4 ocorrências de estupro contra meninas de até 13 anos - ATÉ PORQUE, NÃO EXISTE SEXO COM MENOR DE 14 ANOS, É ESTUPRO SEMPRE, índices cruéis demais até para o país que, até 2005, previa a possibilidade de um estuprador deixar de ser punido caso se casasse com a vítima.
Estejamos atentos às nossas crianças. Sempre.
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Sobre a autora: Lays Macedo é jornalista - orgulhosa por ser da Uesb - e estudiosa do feminismo - ativa e atuante. Também faz parte do quadro da segurança pública da Bahia. Adora conversas e tudo aquilo que disseram para ela que mulher não pode.
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