Vyni e o perigo de se apaixonar por um hetero
Vyni e Eliezer no BBB22 (Reprodução/Instagram)
Por Ígor Luz
Na última terça (15), Vyni foi eliminado do BBB22. Confesso que fiquei feliz. No início, eu ficava constrangido com sua visível paixão por Eliezer, homem hetero. Depois fiquei raivoso querendo dar duas sacudidas nele e pedir um pouco de dignidade. A vontade era gritar um: "Acorda, gay, esse macho não te quer!" Nos últimos dias, o constrangimento e a raiva cederam lugar para a pena. Fiquei realmente com dó das suas investidas implorando por um pouco de afeto de um homem que, claramente, só queria ser seu amigo. "Vamos fazer uma conchinha por 10 segundos?", pediu ele uma noite antes da sua eliminação. Parecia que não tinha sobrado resquícios de amor próprio no cearense.
Aqui fora, no Mais Você, Vyni disse que sentia um grande amor pelo brother, mas que era apenas amizade. Contou que apenas se dedica demais às pessoas. Pode ser que seja verdade, mas eu não acredito. O olhar era de apaixonado. O deslumbre era de apaixonado. Os elogios exagerados (inclusive para as partes íntimas), a cisma com Eliezer ficando com garotas, os pedidos de carinho. Foi uma coisa tão forte que atrapalhou demais o jogo dele. Ele se anulou e se apagou. Para ele, só essa relação importava. E ele ficava feliz com cada migalha recebida.
Eu não gosto de Eliezer, mas não podemos culpá-lo na história com Vyni. Ele estava sendo legal com um gay que confundiu os seus sentimentos. Coisa parecida aconteceu com Victor Hugo e Guilherme no BBB20. Já aconteceu também com alguns amigos. E o resultado é sempre desastroso: ilusão, anulação, tristeza. Vyni deve contar com um histórico de rejeição. Ele falou que era "acostumado a levar porrada da vida". Também nunca se relacionou. Quando se viu aceito e objeto de afeto por um homem padrão, fantasiou uma situação. Devemos levar isso em conta. Gays não são ensinados a se relacionar. No colégio, enquanto casais heteros são formados em meio a bilhetinhos, quadrilhas e flertes, gays são silenciados.
Precisamos ficar atentos (e fortes) para não cair na cilada de confundir os sentimentos quando um homem hetero abraça a gente. Grande parte da nossa luta é sobre aceitação, furar a bolha, quebrar os muros. Quando me assumi para três amigos heteros, um deles brincou ao me abraçar: "Mas você não tá com tesão agora não, né?" A piada sem graça deixava claro o recado: "Sou seu amigo, não vai rolar entre a gente." Na dúvida, sempre escolha se amar em primeiro lugar.
O que eliminou Vyni foi o maior tropeço que ele deu dentro do BBB 22: se anular por um macho. Quem se anula por uma paixão estará sempre fadado à ruína e à solidão. Ninguém consegue amar alguém que não está se amando. Vyni se largou de mão para viver esse amor platônico com Eli. E aí nós também o largamos.
Igor Luz
Sobre o autor: Eu sou o menino do interior que viajava pelas letras dos livros empoeirados e cresceu com essa mania boba de escrever. Jornalista diplomado, cervejeiro de boteco e um patife adorável. Descrente e desastrado. Apaixonado por café, palavras e gente.Instagram @iguluz