Calor, desidratação e descuidos no verão aumentam o risco de AVC, alerta especialista

  • Júnior Patente
  • Atualizado: 23/12/2025, 09:32h

Casos de acidente vascular cerebral (AVC) costumam registrar aumento durante o verão, período em que fatores como calor intenso, desidratação e mudanças no estilo de vida elevam os riscos da doença. A informação foi baseada em entrevista com o neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista Orlando Maia, do Hospital Quali Ipanema, no Rio de Janeiro à Agência Brasil.

De acordo com o médico, o calor favorece a desidratação natural do organismo, o que deixa o sangue mais espesso e aumenta a possibilidade de coagulação. Esse processo está diretamente ligado ao AVC, especialmente ao tipo isquêmico, que ocorre quando um coágulo entope um vaso sanguíneo no cérebro. Esse tipo representa cerca de 80% dos casos, enquanto o AVC hemorrágico, causado pelo rompimento de um vaso cerebral, responde por aproximadamente 20%.

Orlando Maia explica que a desidratação torna o sangue mais concentrado, facilitando a trombose e, consequentemente, elevando o risco de um AVC. Além disso, o verão provoca alterações na pressão arterial. Com o calor, os vasos sanguíneos tendem a se dilatar para ajudar o corpo a regular a temperatura, o que pode levar à queda da pressão. Esse cenário favorece tanto a formação de coágulos quanto o surgimento de arritmias cardíacas, quando o coração bate fora do ritmo normal. Nessas situações, coágulos formados no coração podem migrar para o cérebro, já que cerca de 30% do sangue bombeado pelo coração é direcionado para essa região.

Outro fator de risco destacado pelo especialista é o relaxamento dos cuidados com a saúde durante as férias. O aumento do consumo de bebidas alcoólicas, comum nessa época, intensifica a desidratação e eleva as chances de arritmia. Além disso, a negligência com o uso regular de medicamentos, especialmente em pessoas com doenças crônicas, contribui para ampliar o risco de AVC.

Doenças típicas do verão também entram na lista de agravantes. Quadros como gastroenterite, diarreia, insolação e esforço físico excessivo, quando associados, aumentam ainda mais a predisposição ao acidente vascular cerebral. O tabagismo é outro fator relevante. Segundo Orlando Maia, o fumo é uma das maiores causas externas de AVC, pois a nicotina compromete a elasticidade dos vasos sanguíneos, favorecendo tanto o AVC hemorrágico quanto o isquêmico, além de estimular processos inflamatórios que facilitam o acúmulo de placas de colesterol.

O médico alerta ainda para o impacto do estilo de vida moderno, somado ao tabagismo e ao controle inadequado de doenças crônicas, o que tem levado ao aumento de casos de AVC em pessoas com menos de 45 anos. No Hospital Quali Ipanema, por exemplo, são atendidos cerca de 30 pacientes por mês durante o verão, número que chega a ser o dobro do registrado em outras épocas do ano.

O AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. Quando não leva ao óbito, frequentemente deixa sequelas graves, como dificuldades para andar, falar, enxergar ou se alimentar, exigindo cuidados constantes da família. Por isso, a prevenção é fundamental. Segundo o especialista, hábitos de vida saudáveis, prática regular de atividade física, alimentação equilibrada, controle da pressão arterial, uso correto de medicamentos e abandono do tabagismo são medidas essenciais para reduzir os riscos.

Atualmente, há tratamento eficaz para o AVC, desde que o atendimento seja rápido. Uma das opções é a aplicação de um medicamento intravenoso capaz de dissolver o coágulo, que deve ser administrado até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Em casos específicos, é possível realizar um procedimento por cateter, introduzido pela virilha, que aspira o coágulo e pode ser realizado em até 24 horas após os primeiros sinais.

Os principais sintomas de AVC incluem paralisia súbita de um lado do corpo, dificuldade ou alteração na fala, perda de visão, tontura intensa ou perda repentina da consciência. Diante de qualquer um desses sinais, a orientação é buscar atendimento médico imediato, já que o AVC é uma emergência e o tempo de resposta pode ser decisivo para salvar vidas e evitar sequelas graves.

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