“Eu tenho Síndrome de Down, e daí?” - virada histórica no debate sobre Síndrome de Down
Foto: defatocampinas.com.br
Entre os dias 19 e 22 de novembro, Campinas-SP foi palco de uma transformação silenciosa — mas profunda. O Congresso internacional “Eu tenho Síndrome de Down, e daí?”, realizado pela Fundação Síndrome de Down (FSDown), fez da cidade o epicentro mundial das discussões mais urgentes sobre inclusão, diversidade e direitos das pessoas com deficiência. Delegações de 19 países estiveram presentes neste encontro, integrando o IX Congresso Brasileiro e o VII Congresso Ibero-americano de Síndrome de Down.
Durante quatro dias, estudiosos, especialistas e, sobretudo, pessoas com Síndrome de Down protagonizaram debates que ultrapassam a retórica. O evento não se limitou ao formato tradicional de congressos científicos. Foi — nas palavras de quem participou — um espaço vivo de troca, escuta ativa e construção coletiva. Temas como autonomias, vida adulta, mercado de trabalho, afetividade e o direito à tomada de decisões ganharam dimensão prática e emocional, colocando o cotidiano das pessoas com Síndrome de Down no centro das discussões.
O evento também marcou o aniversário de 40 anos da FSDown, celebrando a luta contínua pela invisibilizada cidadania das pessoas com deficiência. Palestras, rodas de conversa e workshops evidenciaram que o protagonismo não é apenas discurso: mais de 100 pessoas com Síndrome de Down, de todas as regiões do Brasil, foram as vozes principais nos debates e reivindicações, ocupando os espaços que antes lhes eram negados.
Vozes que ecoam uma nova realidade
Especialistas internacionais como Carlo Lepri (Itália), David Rodrigues (Portugal) e Eduardo Moreno Vivot (Argentina) somaram-se a nomes brasileiros de referência, entre eles Zan Mustachi (médico geneticista), Maria Teresa Egler Mantoan (Unicamp) e Maria Clara Machado Israel (autodefensora e atriz). Cada fala reafirmou: ser protagonista da própria história não é futuro distante, mas urgência do presente.
O congresso de Campinas fez mais do que discutir inclusão; rompeu o silêncio em torno dos desafios reais — autonomia, mercado de trabalho, direito ao afeto, moradia independente e decisão sobre o próprio corpo. Ao colocar as pessoas com Síndrome de Down no centro, expôs fragilidades das estruturas e apontou caminhos possíveis.
Qual sociedade queremos construir?
Volta-se para fora dos auditórios uma pergunta incômoda e necessária: estamos realmente prontos para enxergar os sujeitos atrás dos diagnósticos? O Congresso mostrou que inclusão só se concretiza na escuta e ação coletivas. A cada experiência compartilhada, a cada reivindicação pública, a certeza: construir uma sociedade mais justa exige desaprender preconceitos e reinventar a forma de fazer políticas públicas.
Quando a programação se encerrou, o sentimento era de travessia — não de chegada. “Aqui, a pessoa com Síndrome de Down é o centro. Falar por si mesmas é o passo mais importante para uma cidadania plena”, reforçou Marcos Rogério Tofoli, presidente da FSDown. O desafio que se abre, agora, é não deixar que as vozes silenciadas pelo tempo se calem novamente.







