Ministra Aniele Franco: “A luta é por todos nós”
(foto: Sergio Lima / AFP)
A ministra Aniele Franco, à frente do Ministério da Igualdade Racial, participou do programa Sem Censura, da TV Brasil, e trouxe reflexões profundas sobre o papel do ministério, a importância das políticas afirmativas e a urgência de transformar narrativas raciais no Brasil. Em conversa franca e emocionada, Aniele destacou que a recriação do Ministério da Igualdade Racial é fruto de décadas de luta dos movimentos sociais e representa um avanço histórico para a justiça racial, o feminismo negro e a democracia brasileira.
Um ministério transversal e interseccional
Aniele Franco explicou que o Ministério da Igualdade Racial não atua isoladamente, mas de forma transversal e interseccional, dialogando com outras áreas do governo para garantir direitos a quem mais precisa. “Cuidamos de 56% da população brasileira, pessoas que historicamente foram excluídas. Nossa luta é diária por saúde, moradia, educação, emprego e dignidade”, afirmou. Ela citou programas como o Juventude Negra Viva, que busca combater a evasão escolar e garantir acesso a esporte, cultura e lazer para jovens negros, além de políticas de titulação quilombola e bolsas de estudo para mulheres negras.
Letramento racial e políticas públicas
A ministra destacou a importância do letramento racial, citando o curso promovido pela ENAP, que teve mais de 20 mil inscritos. “O racismo mata, e precisamos que as pessoas entendam isso. As cotas raciais não são privilégio, são reparação. Elas transformam vidas e garantem acesso a quem sempre foi excluído”, disse. Aniele também compartilhou sua trajetória pessoal, ressaltando que foi cotista em todas as etapas de sua formação acadêmica e que hoje vê, na prática, o impacto dessas políticas.
O desafio da narrativa e a luta por representatividade
A ministra falou sobre a dificuldade de disputar narrativas em um país marcado pelo racismo estrutural. “Quando chegamos a espaços de poder, muitos não entendem que estamos ali por mérito, mas também por reparação histórica. É preciso contar a história do Brasil, que foi fundado sobre a escravidão e a opressão”, afirmou. Ela citou o “teste do pescoço”, que propõe observar a presença de pessoas negras em diferentes ambientes, para evidenciar a desigualdade racial.
Marcha das Mulheres Negras e combate à violência
Aniele destacou o apoio do Ministério à Marcha das Mulheres Negras, que este ano chega à sua 25ª edição em Brasília. “Estamos lutando pelo bem-viver, pela reparação e contra a violência política de gênero e raça. Espaços como o Congresso Nacional ainda são majoritariamente brancos e masculinos, e precisamos mudar isso”, disse. Ela também falou sobre a importância de combater a violência política e ressignificar espaços historicamente negados às mulheres negras.
Atendimento psicossocial e cuidado com as famílias
A ministra abordou a criação de programas de atendimento psicossocial para mães e familiares de vítimas de violência, em parceria com os ministérios da Justiça e da Saúde. “A dor de perder um filho, um irmão, é imensa. Precisamos cuidar da saúde mental dessas pessoas, que muitas vezes não têm acesso a esse tipo de apoio”, afirmou. Ela compartilhou sua própria experiência de luto pela perda da irmã, Marielle Franco, e destacou a importância do apoio emocional para quem sofre perdas.
O legado da luta
Aniele Franco encerrou a entrevista reafirmando seu compromisso com a luta por igualdade racial e justiça social. “Quando chego a um cargo de poder, sei que represento milhões de pessoas que nunca chegarão a esses espaços. É uma honra e uma responsabilidade enorme. Vamos seguir firmes, porque a luta é por todos nós”, concluiu.







