Mãe denuncia discriminação em corrida de aplicativo contra filho autista em Vitória da Conquista

  • Júnior Patente
  • Atualizado: 23/10/2025, 10:21h

Por volta das 13h40 desta quinta-feira, Carolina viveu uma situação de constrangimento e desamparo ao tentar levar seu filho, Bernardo — uma criança autista nível 3 de suporte — à terapia. O episódio ocorreu em Vitória da Conquista e envolve um motorista do aplicativo 99, que se recusou a realizar a corrida após ver o comportamento do menino.

Segundo Carolina, o marido estava fora e o carro da família não estava disponível. “Meu filho estranha ambientes novos. Assim que eu entrei no carro, ele já ficou agitado e não quis entrar. Expliquei ao motorista que Bernardo é autista e que se assusta em veículos diferentes”, contou.

Mesmo após o esclarecimento, o motorista teria reagido com desprezo, dizendo que não poderia levar os dois. “Ele falou: ‘Moça, desça, porque eu não tenho como levar vocês assim’. Disse ainda que meu filho podia quebrar uma porta ou um vidro do carro.”

Bernardo acabou entrando em crise quando percebeu que não iria à terapia. A crise, segundo Carolina, durou cerca de 30 minutos, e só terminou após a intervenção do terapeuta da criança, que precisou ir até sua casa. “Foi desesperador. Nós mães de crianças atípicas já temos nossa rotina repleta de desafios, e ainda precisamos lidar com o preconceito”, desabafou emocionada.

Após o episódio, Carolina procurou registrar um Boletim de Ocorrência na delegacia, mas foi informada que o registro só poderia ser feito em caráter informativo, já que não houve violência física. “Tentei explicar que se trata de discriminação e violação do direito de ir e vir, mas o atendente disse que o motorista apenas se recusou a fazer a corrida”, relatou.

Ela afirma que levará o caso ao Ministério Público. “Não quero apenas justiça pelo meu filho. Quero que outras famílias não passem por isso. Existe um preconceito velado enorme contra nossos filhos, e ele precisa ser combatido.”

Carolina também compartilhou o caso nas redes sociais e recebeu dezenas de mensagens de outras famílias que passaram por situações semelhantes. “Muitas relataram que motoristas cancelam as corridas ao ver o colar de identificação de autismo da criança. Isso mostra como a falta de empatia e conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista ainda é profunda”, lamentou.

A reportagem entrou em contato com a 99, que até o momento não respondeu sobre as medidas que serão adotadas. O caso levanta novamente a discussão sobre a urgência de capacitação de motoristas de aplicativos e o respeito à Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), que proíbe toda forma de discriminação por motivo de deficiência — inclusive em serviços de transporte público e privado.

Enquanto o processo corre, Carolina segue mobilizando outras famílias e entidades voltadas aos direitos das pessoas com deficiência. “A luta é diária. Não buscamos privilégios, queremos apenas respeito e humanidade.”

Comentários


Instagram

Facebook