Uso excessivo de telas preocupa especialistas: riscos à saúde mental e ao desenvolvimento infantil

O avanço das tecnologias digitais trouxe conforto, acesso à informação e novas formas de aprendizado. Mas também acendeu um alerta entre pais e profissionais de saúde: o uso excessivo de telas por crianças e adolescentes tem se tornado uma preocupação crescente.
De acordo com um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), crianças entre 5 e 10 anos passam, em média, mais de seis horas por dia diante de telas — tempo muito superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que orienta no máximo duas horas diárias para essa faixa etária. Pesquisas internacionais, como a da Universidade de Alberta (Canadá), mostram ainda que o uso exagerado de dispositivos está ligado a aumentos nos níveis de ansiedade, distúrbios do sono e dificuldades de concentração.
A psicóloga e pedagoga Cassiana Tardivo, especialista em neuroaprendizagem e dependência tecnológica, explica que o problema vai muito além do tempo de exposição:
“As telas, quando usadas sem limites e sem acompanhamento, afetam não apenas o comportamento, mas também o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças”, afirma.
Cassiana destaca que o diálogo dentro das famílias é o principal caminho para enfrentar os riscos da era digital. Questões como ciberbullying, privacidade e exposição a comportamentos de risco precisam ser debatidas com clareza e empatia.
Outro ponto de atenção, segundo a especialista, é o ambiente doméstico:
“O quarto, que antes era um refúgio seguro, hoje pode se tornar um espaço de vulnerabilidade. É lá que muitos jovens passam horas conectados, enfrentando pressões e influências que os pais muitas vezes desconhecem.”
Para Cassiana, reforçar vínculos familiares, estabelecer limites e estar presente de forma ativa são atitudes essenciais para proteger o bem-estar emocional das novas gerações.
“Incluir também significa acolher, ouvir e proteger — dentro e fora das telas”, conclui a psicóloga.
Dado alarmante: um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que 58% dos adolescentes brasileiros relatam sentir ansiedade ou irritação quando ficam longe do celular — um dos sinais claros da dependência tecnológica.
Em um mundo hiperconectado, o desafio está lançado: como garantir que a tecnologia seja aliada — e não ameaça — ao desenvolvimento saudável das crianças?