Deputada Luizianne Lins é detida por forças israelenses durante missão humanitária ao povo palestino

Foto: Abaca Press/SIPAPRE/Sipa USA via AP via CNN Newsource
A detenção da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) por militares de Israel, durante uma missão humanitária em direção à Faixa de Gaza, gerou forte repercussão no Congresso Nacional nesta semana. O barco em que a parlamentar viajava fazia parte da Flotilha Global Sumud – iniciativa internacional que buscava levar alimentos e medicamentos ao povo palestino – e foi interceptado pela Marinha israelense em águas internacionais.
Segundo informações do Partido dos Trabalhadores, além de Luizianne, outros brasileiros estavam na embarcação, entre eles a vereadora Mariana Conti (PSOL), de Campinas. Ao todo, quinze voluntários brasileiros e dezenas de estrangeiros faziam parte da missão, todos incomunicáveis desde a ação militar.
Uma mensagem gravada pela própria deputada antes da partida foi divulgada em suas redes sociais logo após a confirmação da prisão. No vídeo, Luizianne afirma:
"Se você está assistindo a este vídeo é porque eu fui sequestrada pelas forças de ocupação israelense e levada contra a minha vontade. Peço ao meu governo para acabar com qualquer relação econômica com Israel e a me levar para casa. Pare o genocídio em Gaza.”
A notícia da detenção chegou ao Plenário da Câmara dos Deputados durante a votação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. O clima foi de preocupação e solidariedade entre parlamentares de diferentes partidos.
O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), informou ter contatado imediatamente o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pedindo apoio do Itamaraty para garantir a segurança da deputada e dos demais brasileiros.
"Solicitei todo o apoio do Itamaraty no contato com as autoridades israelenses, visando que a deputada Luizianne possa ter as suas prerrogativas respeitadas, bem como os direitos dos demais brasileiros que também estão passando por esse momento."
Parlamentares da oposição e da base governista se uniram em manifestações de apoio. O deputado Danilo Forte (União-CE) classificou a situação como grave:
"Está incomunicável e a família está aflita. É o momento em que esta Casa precisa se mobilizar para resgatar uma deputada tão atuante e tão importante para a história política de Fortaleza.”
Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) destacou o caráter pacífico da missão:
"Nós temos uma parlamentar em uma flotilha absolutamente humanitária, absolutamente pacífica, que buscava levar ajuda fundamental para o povo da Palestina, que vive, dentre outras torturas, a própria fome.”
Histórico de ataques à flotilha
A detenção de Luizianne não é um episódio isolado. Desde 2010, missões humanitárias conhecidas como Flotilha da Liberdade, que deram origem à atual Flotilha Global Sumud, vêm sendo alvo de ações militares de Israel.
Naquele ano, o ataque mais violento ocorreu contra o navio turco Mavi Marmara, quando forças israelenses mataram nove ativistas e deixaram dezenas de feridos durante uma tentativa de romper o bloqueio marítimo a Gaza. Desde então, outras embarcações menores, como os barcos Estelle (2012) e Zaytouna-Oliva (2016), também foram interceptadas, resultando na prisão temporária de tripulantes e voluntários internacionais.
Em todas essas ocasiões, os ativistas afirmaram que tinham como único objetivo levar alimentos, remédios e suprimentos básicos para a população palestina, impedida de receber ajuda externa devido ao bloqueio. Organizações internacionais de direitos humanos denunciaram as intercepções como violações ao direito humanitário e ao princípio da liberdade de navegação em águas internacionais.
Repercussão internacional
O episódio reacendeu debates sobre a guerra em Gaza e o papel do Brasil em missões humanitárias internacionais. Para o PT, a interceptação dos barcos representa um desrespeito às normas internacionais e uma tentativa de impedir a chegada de ajuda básica a uma população em situação de calamidade.
Até o fechamento desta matéria, Luizianne Lins e os demais voluntários continuavam detidos em Israel, e o governo brasileiro buscava esclarecimentos oficiais junto às autoridades israelenses.