A cantora e compositora Angela Ro Ro morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, no Rio de Janeiro. Ela estava internada desde junho no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, zona sul da cidade, onde tratava complicações decorrentes de uma infecção pulmonar.

A morte foi confirmada por seu advogado, Carlos Eduardo Lyrio, e também por produtores próximos. Segundo informações, Angela passou por uma cirurgia no fim de semana e apresentou complicações no pós-operatório. Ela sofreu uma parada cardíaca e, após 15 minutos de tentativas de reanimação, não resistiu.

Durante a internação, a artista passou por uma traqueostomia e chegou a ficar 21 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em maio, antes da hospitalização, havia utilizado as redes sociais para pedir ajuda financeira, relatando dificuldades para arcar com despesas médicas.

Trajetória

Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, no Rio de Janeiro, em 1949, recebeu ainda na infância o apelido de Ro Ro, referência à voz rouca e grave que se tornaria sua marca registrada. Começou a estudar piano clássico aos cinco anos e, mais tarde, viveu temporadas na Itália e em Londres, onde trabalhou em diferentes funções e se apresentou em pubs.

No início da década de 1970, participou do álbum Transa, de Caetano Veloso, tocando gaita em “Nostalgia”. Pouco depois, iniciou a carreira profissional no Brasil, assinando com a gravadora Polygram/Polydor (atual Universal Music).

O primeiro grande reconhecimento veio em 1980, com o lançamento do disco Só Nos Resta Viver e a interpretação de Amor, Meu Grande Amor, que se tornou um clássico da música brasileira. Na mesma época, dividiu o palco com Angela Maria no programa “Fantástico”, num encontro simbólico de gerações.

Influenciada por nomes como Ella Fitzgerald, Maysa e Elis Regina, Angela construiu uma obra que transitava entre blues, samba-canção, bolero e rock. Teve músicas gravadas por artistas como Ney Matogrosso (Balada da Arrasada), Maria Bethânia (Fogueira) e Frejat (Amor, Meu Grande Amor).

Entre seus álbuns de destaque estão Escândalo! (1981), Acertei no Milênio (2000), Compasso (2006) e Selvagem (2017), seu último trabalho de estúdio. De 2004 a 2005, apresentou o talk-show Escândalo, no Canal Brasil.

Vida pessoal e legado

Angela Ro Ro se destacou não apenas pela voz inconfundível e composições marcantes, mas também pela postura autêntica. Foi uma das primeiras artistas brasileiras a se assumir homossexual publicamente, nos anos 1980, e sempre abordou sua vida pessoal e suas dificuldades de forma franca.

Nos últimos anos, enfrentou problemas de saúde e financeiros, o que a afastou dos palcos. Sua última apresentação ocorreu em maio deste ano.

Angela deixa uma obra que se consolidou como uma das mais originais da música popular brasileira, marcada pela intensidade e pela fusão de gêneros, além de uma trajetória pessoal que inspirou gerações de artistas e ouvintes.