Conheça o cinema de Daniel Leite Almeida
Diretor de curtas como Janela de Naim (2015) e Patrício (2014), do documentário Solo Seco e Rachado (2018) e do filme longa-metragem Alice dos Anjos (2021), Daniel Leite Almeida é uma das forças advindas do cinema de interior no estado da Bahia.
A vida
Nascido em maio de 1991, no município de Aragarças, localizado no interior de Goiás, Daniel graduou-se primeiramente em Letras pela Universidade Federal do Mato Grosso. Sua vinda para Vitória da Conquista, em busca da graduação no curso de Cinema, foi um acaso. “Não sabia sequer da existência de Conquista, acho que foi um chamado mesmo, uma coisa meio cósmica. Era para ser, entendeu?”, destacou o cineasta em entrevista exclusiva.
O cinema se mostrava como algo muito distante na vida de Daniel. Filho de trabalhadores do campo, desde os 12 anos sua grande aspiração profissional girava em torno da carreira de escritor, pois a literatura era algo “palpável” em sua visão. A partir de uma vontade de assistir aquilo que escrevia, ele foi ao teatro, mas não era o “suficiente, pois você monta uma vez e se você quiser ver aquelas coisas feitas, você tem que fazer essa montagem o tempo todo”, segundo ele.
Quando teve seu primeiro contato com uma câmera, ele passou a se encontrar. A máquina era emprestada e a sensação ao manuseá-la foi descrita por ele como “terapêutica”. Quando se formou em Letras, inscreveu-se no curso de Cinema da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e, após juntar dinheiro por cerca de dois meses, viajou para Vitória da Conquista para fazer sua matrícula.
A obra
Sua estreia no audiovisual foi com o curta-metragem Patrício (2014). Nele, observamos o cotidiano de um artista de rua, que se maquia como um palhaço para tocar violino no centro da cidade, e um garoto que se arruma para ir à escola. Tudo muda a partir do momento em que o garoto encontra o artista em um semáforo e cada um acaba se enxergando na imagem do outro.
Patrício (2014). Reprodução: Ato3 Produções
O curta foi selecionado nos festivais XIII MAUAL, V FECIBA e I LUZ DE CINEMA. Algumas características, como a sutileza ao retratar emoções humanas e o uso da trilha sonora como fator narrativo não somente complementar, mas construtivo para a obra como um todo, já poderiam ser observadas desde sua primeira obra lançada.
Após outros curtas-metragens, como Janela de Naim (2015), Mãos Criadoras (2016) e Solo Seco e Rachado (2018), sua primeira produção em longa metragem viria com o lançamento de Alice dos Anjos (2021). A história do filme gira em torno de uma releitura/adaptação do conto clássico de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas, para a realidade do sertão nordestino.
Ao decorrer do filme, Alice interage com diversos personagens como o Bode Preto que vive atrasado, um menino que carrega água na peneira, o Calango, um indígena Tupinambá, a Rainha do Cangaço, o Sanfoneiro Maluco e o Coronel. Assim como no livro, são levantadas questões existencialistas e, a partir dessa reinterpretação, o diretor reforça a união familiar e o regionalismo através de uma direção de arte bastante inspirada e autoral.
Alice dos Anjos. Reprodução: Ato3 Produções
Alice dos Anjos é, até então, o filme mais premiado do diretor. Entre as premiações, estão as do 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, nas categorias de melhor filme pela crítica da ABRACCINE, melhor filme pelo Júri Popular, melhor direção, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor maquiagem. A obra também foi finalista do 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria Infantil.
Embora o cinema independente enfrente percalços, para Daniel a perspectiva acerca do futuro se mantém otimista. “Se conseguirmos fechar a engrenagem que falta para a cadeia audiovisual em Vitória da Conquista, eu acho que a tendência é que o sudoeste da Bahia seja um dos principais protagonistas da produção audiovisual brasileira”, afirmou o diretor.
Atualmente, Daniel Leite Almeida trabalha na produção de Alice Lembra, uma sequência direta do seu filme de maior sucesso. A obra se passa quatro anos após os acontecimentos do último lançamento, mostrando agora uma Alice pré-adolescente, que se depara com uma nova aventura em seu universo recheado de personagens ilustres da cultura nordestina.