As dez canções mais importantes da música brasileira nos últimos cem anos, de acordo com o Jornal O Globo

Cem personalidades ligadas à música, como compositores, intérpretes, jornalistas, produtores e pesquisadores, por exemplo, foram convidados para votar.
  • Danilo Souza
  • Atualizado: 06/08/2025, 03:23h

O Jornal O Globo, que completou 100 anos em 2025, publicou, no fim de julho, um ranking das canções mais importantes da música brasileira desde 1925. Cem personalidades ligadas à música, como compositores, intérpretes, jornalistas, produtores e pesquisadores, por exemplo, foram convidados para votar.

Com base nos votos, o Jornal organizou uma lista com as canções que mais foram citadas. Neste texto, você acompanha um recorte somente do top 10, mas caso queira ler a seleção inteira, que possui 100 músicas, clique aqui.

Veja a lista em ordem decrescente abaixo.

10 - João Bosco e Aldir Blanc – O Bêbado e o Equilibrista (1979)

Considerada como o hino informal da Lei da Anistia, que, em 1979, trouxe de volta ao país alguns dos brasileiros que haviam sido exilados pela ditadura militar, o samba ficou conhecido nacionalmente na voz de Elis Regina, que gravou a faixa em seu disco “Essa Mulher”, no fim da década de 70.

Para Gabriel da Muda, cantor de samba e um dos votantes, “O Bêbado e o Equilibrista” foi um marco e ainda gera muita comoção, mesmo quase 50 anos após o seu lançamento. "Escolhi esta, primeiro, porque para mim é inimaginável uma lista de melhores e mais icônicas músicas da MPB sem uma da parceria de Aldir Blanc e João Bosco. Segundo, pela importância da música, um marco, que na época em que foi lançada ficou meio que como um hino da Anistia e até hoje gera muita comoção quando é cantada. É impressionante como as pessoas imediatamente ligam ‘O bêbado e a equilibrista’ àquele período obscuro da ditadura", contou.

9 - Roberto Carlos e Erasmo Carlos – Detalhes (1971)

Em 1971, já após o fim da Jovem Guarda, em pleno vapor com o projeto de se tornar o maior cantor romântico do país, Roberto Carlos escreveu “Detalhes”, uma canção sobre como é difícil esquecer um grande amor. Na terceira parte da letra, o artista teve dificuldades e então chamou o seu grande parceiro, Erasmo Carlos. Um dos maiores sucessos da parceria entre os dois, a música foi lançada no disco “Roberto Carlos (1971)” que consolidou a sua carreira como cantor para todo o Brasil.

Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, foi um dos músicos que votou nesta faixa. “'Detalhes' é uma música espetacular, super simples e muito emblemática, muito Brasil. Ela faz parte da minha vida, ouço ela praticamente desde que nasci", disse Kisser.

8 - Caetano Veloso - Alegria, Alegria (1968)

Com título inspirado, de forma irônica, em um bordão do cantor Wilson Simonal em seu programa de TV, ao mesmo tempo em que poderia ser lida como um grito de liberdade contra a ditadura e uma crítica à alienação da juventude, “Alegria, Alegria” também mergulhava nas guitarras elétricas e no universo pop. Apresentada no Festival da Música Popular Brasileira da Record de 67 (no qual ficou em quarto lugar), ela retornou com força quase três décadas depois na abertura da série de TV “Anos rebeldes” e nas manifestações pelo impeachment do presidente Fernando Collor.

7 - Ary Barroso - Aquarela do Brasil (1939)

Composta em 1939 por Ary Barroso, a canção “Aquarela do Brasil” foi gravada originalmente por Francisco Alves. Em 1942, a faixa ficou conhecida em todo o mundo por conta da animação “Watercolor of Brazil”, da Disney , estrelada por Zé Carioca. Carmen Miranda, Frank Sinatra (que a gravou como “Brazil”), João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos e Elis Regina foram alguns dos muitos intérpretes deste samba.

João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, define que a canção de Ary Barroso por muito tempo foi como um hino brasileiro alternativo. "'Aquarela do Brasil' foi, durante muito tempo, considerada o hino nacional alternativo do nosso país, pela beleza da canção e da poesia retratando nossas terras e nossa gente”, relatou o paralama.

6 - Cartola – O Mundo é um Moinho (1976)

Composta em 1943, mas gravada pelo autor só em 1976, “O Mundo é um Moinho” virou um clássico por sua visão devastadora sobre as desilusões que a vida pode trazer. Cartola traz a preocupação com o futuro de sua filha adotiva, Creusa, que estava entrando na adolescência e começando a demonstrar interesses amorosos. Um conselho paterno, expressando o medo de que ela se machucasse e se decepcionasse com as escolhas da vida adulta.

Para Frejat, ex-guitarrista do Barão Vermelho e um dos principais compositores do Brasil, “O Mundo é um Moinho” mostra a sensibilidade e a genialidade de Cartola. “A sensibilidade dele na letra dessa música e na composição é de um nível impressionante… a profundidade, a maneira como ele aborda a história, o formato, a qualidade lírica da letra, a bela melodia."

5 - Chico Buarque – Construção (1971)

Faixa-título do álbum lançado por Chico Buarque em 1971, “Construção” é uma crítica à exploração dos trabalhadores, à alienação e à desumanização presente na sociedade capitalista. O compositor recorreu à repetição, engenhosamente embaralhada, da estrutura da letra e à escolha de palavras proparoxítonas no final dos versos, que criam um ritmo mecânico, reflexo da rotina e da falta de sentido na vida do trabalhador.

4 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes – Chega de Saudade (1959)

Composta em 1956, com letra de Vinicius e melodia de Tom , a canção foi gravada dois anos depois por Elizeth Cardoso no álbum “Canção do amor demais”, com arranjos de Tom e um iniciante João Gilberto no violão. Pouco tempo depois, João lançaria, com seu violão e voz, um compacto simples com “Chega de saudade” e “Bim bom” – era o ponto zero da bossa nova, que em pouco tempo se espalharia pelo mundo.

Para Pedro Paulo Malta, jornalista e pesquisador, “[Chega de Saudade] é uma joia, um samba muito bem feito, da obra de dois imensos compositores. Um samba com aquela melancolia da primeira parte em tom menor e aquele refresco da esperança na segunda parte, em tom maior.”

3 - Tom Jobim – Águas de Março (1972)

Dez anos depois da “Garota de Ipanema” com Vinicius de Moraes, Tom Jobim vivia um tempo de quase esquecimento no Brasil, quando a ditadura militar, ainda por cima, lhe causava cada vez mais constrangimentos. Em março de 1972, após um dia de trabalho em seu sítio, ele começou a compor uma melodia ao violão. Animado, decidiu-se a fazer a letra, usando as imagens das chuvas de março como metáfora para o ciclo da vida, entre a esperança e o desespero. Lançada num compacto pelo jornal O Pasquim e incluída no álbum “Matita Perê”, “Águas de março” se tornaria uma de suas músicas mais conhecidas — e imortal, no dueto com Elis Regina, gravada no álbum “Elis & Tom” (1974).

2 - Pixinguinha e João de Barro – Carinhoso (1922)

Apesar de ter sido composta em 1922 – portanto, fora do recorte temporal proposto pelo Jornal O Globo – “Carinhoso” entrou na lista já que só foi lançada em 1937, na voz de Orlando Silva. Uma das canções brasileiras mais regravadas em todos os tempos, a faixa ganhou letra em inglês e se tornou um hit romântico nos anos 1970 como tema da novela “Carinhoso”, da TV Globo.

Para Fafá de Belém, que votou nesta canção, “a estrutura melódica [dessa música] toca a todas as pessoas indistintamente, porque é de uma elegância rara que ficou com o tempo. Não é datada. E é muito popular. Conseguir juntar tudo isso é muito difícil.”

1 - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira – Asa Branca (1947)

A mais importante canção nordestina de todos os tempos, “Asa Branca” foi composta em 1947 por Luiz Gonzaga e seu parceiro, o médico Humberto Teixeira, e lançada no lado B de um disco de 78 rotações, com a música “Vou prá roça” no lado A. Apesar de ser considerada lamurienta e triste, o baião com melodias emprestadas do folclore fez muito sucesso e recebeu inúmeras regravações dos mais importantes artistas da MPB. Entre eles, Raul Seixas, que a transformou em um country em inglês chamado “White wings”.

Para Fred Zero Quatro, cantor pernambucano, “ela toca toca fundo na alma do nordestino. Uma prova da relevância dessa música é que, apesar de ter sido composta na década de 1940, ela talvez seja uma das canções brasileiras com maior número de regravações."

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