Escritores Conquistenses ocupam a Feira Literária de Ilhéus com narrativas do Sertão e práticas de mediação cultural
A oitava edição da Feira Literária de Ilhéus (Fli), realizada no centro histórico da cidade e com programação diversa ao lado do Teatro Municipal, reuniu nomes de diversas regiões do Brasil, com destaque para a presença de autores e autoras de Vitória da Conquista. Com uma atuação voltada para a valorização da literatura do interior e das práticas de mediação de leitura, artistas e escritores conquistenses ocuparam mesas de debate, atividades performáticas e lançamentos ao longo da programação.
Entre os participantes, Juliana Brito, escritora, poeta, gestora cultural e coordenadora da Biblioteca Comunitária Donaraça , participando de sua participação na mesa “Entre o leitor e o livro: o papel da mediação e das políticas”, ao lado da mediadora Rita Argollo e da ativista Bel Santos Mayer, referência em bibliotecas comunitárias. Em sua fala, Juliana destacou a importância da localização central da feira como estratégia de aproximação com o público: "A feira é mais próxima das pessoas, e isso permitiu que as escolas participassem ativamente. Hoje mesmo, por exemplo, houve uma mesa com Ana Maria Machado e o teatro estava lotado de crianças".
Juliana também utilizou o espaço para chamar a atenção à precariedade das bibliotecas públicas, citando tanto Ilhéus quanto Vitória da Conquista: “a nossa (biblioteca conquistense) tem quase 44.000 exemplares, mas não está completamente informatizada e nem bem localizada ” . Sua fala repercutiu entre educadores e outros agentes de leitura, que procuraram para fortalecer a importância de defender as bibliotecas como equipamentos culturais essenciais.
O escritor e editor Nélio Silzantov também integrou a programação. Finalista do Prêmio Jabuti com o romance BR2466 ou a pátria que os pariu , Silzantov participou de uma conversa na Academia de Letras de Ilhéus, onde discutiu os rumores de literatura do sertão, memória e crítica social. Autor de outros dois romances e editor do projeto Foro Literário Sertão da Ressaca, Nélio tem atuação consolidada na cena literária conquistada e no fortalecimento da escrita produzida fora dos grandes centros.
A escritora, fotógrafa e ilustradora A. Bonny representou as produções independentes em dois momentos: participou da mesa “Literatura neomarginal e o dilema das produções independentes”, com mediação de Roger Ferreira e presença de Wesley Barbosa; e também levou à feira a proposta editorial As Crianças Esqueleto , selo fundado em 2024, com foco na produção artística do Sertão do Ressaca. Seu trabalho com zines e publicações alternativas articula imagem e palavra em narrativas que emergem das bordas geográficas e estéticas.
Noi Soul, poetisa, escritora, dançarina e atriz, marcou presença na Feira com a intervenção Sussuros poéticos , dando voz aos versos de André Luiz Rosa e Sosígenes Costa. Noi é uma figura ativa no cenário literário conquistense e, por sua formação em dança e teatro, incorpora a performance como parte essencial de suas manifestações artísticas.
A escritora, consultora, palestrante e mestre em Letras Fernanda de Moraes foi mediadora da conversa com o jornalista e escritor Edney Silvestre sobre as interseções entre o real e o ficcional, no bate-papo “Vidas contadas: da realidade à ficção”. Fernanda atua como colaboradora do Jornal Nota, é leitora crítica e se posiciona como ativista racial, social e feminista.
Outro nome apresentado foi o de Rai, livreiro e responsável por Sebo O Livreiro, espaço tradicional de Vitória da Conquista, reconhecido por seu acervo e importância cultural. Embora não tenha participado diretamente das mesas, sua presença na Feira foi um lembrete do papel dos livresiros independentes como mediadores culturais e guardiões da memória bibliográfica local.
Pawlo Cidade, escritor e produtor executivo da Feira Literária de Ilhéus, destacou, em entrevista à Mega Rádio, que seu papel à frente da curadaria é aproximar territórios que pulsam literatura, como Ilhéus e Vitória da Conquista, com ênfase na valorização da produção literária independente. " A literatura foi feita para criar pontes. Seja no campo das ideias, seja no campo da escrita, seja no campo das feiras, festivais e festas literárias. Mas seja principalmente na articulação entre os territórios, sobretudo aqueles que pulsam literatura, como é o caso de Ilhéus e de Vitória da Conquista", afirmou.
Ao acompanhar o movimento literário em Conquista e profundidades específicas entre as rodas de conversa da Fli e o cenário conquistense, Pawlo contornou que decidiu incluir escritores da cidade na programação desta edição, com o objetivo de fortalecer o intercâmbio cultural entre as regiões.
A Fli foi contemplada pelo Edital de Apoio às Festas, Feiras e Festivais Literários, dentro do Programa Bahia Literária, com apoio do Governo do Estado da Bahia e da Fundação Pedro Calmon. A programação conta com acessibilidade em Libras, atividades para todas as idades e a participação de editoras, coletivos literários, artistas e mediadores culturais.