’’Ela, o mar e eu’’, EP de estreia de Pipa, é para quem não tem medo de navegar

  • Danilo Souza
  • Atualizado: 07/07/2025, 01:52h

Ela, o mar e eu, EP que marca a estreia de Pipa nas plataformas de áudio, chegou ao público nesta sexta-feira (4). As quatro faixas foram gravadas entre outubro do ano passado e fevereiro deste ano, no Estúdio Drakkar, em Vitória da Conquista, com produção musical de Diego Oliveira.

Pipa começou sua trajetória aos 10 anos, quando ganhou seu primeiro violão. Nos anos seguintes, passou por bandas de rock e metal, como Charlotte e Pectus Maculosus, e se consolidou como baixista e percussionista em diversos projetos liderados por mulheres.

Nas suas apresentações ao vivo, a artista se destaca não só pela voz, mas também pela formação inusitada. Ela canta enquanto toca bateria, postura que transforma a dinâmica de palco.

Veja a seguir um faixa a faixa deste projeto que vai do indie rock dançante e potente até a calma e a brisa das ondas do mar no momento certo. Navegue sem medo.

Ela, o mar e eu (2025), primeiro EP de Pipa.

Maresia

Composição: Pipa e Andresa Sampaio

Voz e bateria: Pipa

Baixo: Andresa Sampaio

Guitarras: Luget e Gui Piccoli

Faixa que abre o EP, Maresia é um indie rock leve e gostoso de ouvir. É uma canção bem estruturada, com um começo, meio e fim definidos – introdução, verso, pré-refrão, refrão, volta verso…

Tem potencial para ser a aposta comercial deste trabalho, aquela música que vai tocar nas rádios por aí. O que destaco aqui são principalmente as guitarras, com linhas que remetem às referências sonoras já trazidas por Pipa em suas apresentações ao vivo, como a Maglore, por exemplo.

O conceito do Ela, o mar e eu, marcado por composições que rodeiam a figura de uma “uma mulher-mar”, uma musa de presença afetiva e mitológica, já dá os seus primeiros sinais aqui. O pré-refrão funciona como o mergulho inicial em um outro aspecto dentro desse conceito, que é discorrer sobre o amor entre mulheres.

“E eu que sempre temi o mar

Ignorei todo o risco e me atirei

Como se soubesse nadar”

Quando Você Dança

Composição, voz e bateria: Pipa

Baixo: Andresa Sampaio

Guitarras: Luget e Gui Piccoli

A proposta do indie rock fica ainda mais forte aqui e as guitarras possuem um papel essencial nisso. A composição por si só já é muito boa, mas os timbres e a mixagem dão um peso, no sentido positivo da palavra, que soma muito pro resultado final.

Quando você dança faz jus ao nome e dá mesmo vontade de dançar no ritmo que carrega essa canção do início ao fim. Ao escutar, fiquei imaginando como vai ser essa faixa no ao vivo. É uma coisa meio “Ventura”, um dos álbuns mais aclamados dos cariocas dos Los Hermanos, o que é uma referência ótima, diga-se de passagem.

A artista Pipa. Foto: Juninho Andrade

Já a letra, de novo, mostra coesão com o conceito do projeto e pode ser vista como uma história linear. Em Quando você dançaé a hora de navegar sem medo nas águas descobertas após o mergulho que acontece em Maresia.

“Nas tuas águas sem medo eu naveguei

e aportei nos seus braços, no teu balanço”

Janeiro

Composição, voz e bateria: Pipa

Baixo: Andresa Sampaio

Guitarra: Gui Piccoli

A faixa mais calma até aqui, Janeiro parece ter sido feita justamente para passar essa sensação de estar num porto seguro nesse conceito de navegar nas águas do mar. É interessante escutar um trabalho onde é possível observar as cenas acontecendo e uma história sendo contada mesmo sem imagens.

É engraçado, porque essa canção só tem dois acordes na maioria do tempo, mas é mais do que o suficiente para transmitir um conforto, como se estivesse sendo tocada na beira do mar enquanto sentimos as ondas. Inclusive, é algo que destaco aqui, a capacidade de construir coisas boas na simplicidade; o riff de guitarra é fácil de decorar e fica na cabeça.

De certa forma, todas as faixas são meio “love song” – ou, no bom português, aquela música boa de mandar pro seu amor –  mas essa tem um toque mais intimista nesse quesito.

“Menina, aqui, se quiser, tu faz teu lar

Ah, vem cá, deixa eu te falar

Não tem estrutura que se aguente, não

Quando a gente se abraça”

Íris Negra

Composição: Pipa, Marlua, Fernanda Conegundes

Voz e bateria: Pipa

Baixo: Andresa Sampaio

Guitarras: Luget e Gui Piccoli

Íris Negra é uma faixa pulsante, potente e muito forte. A começar pelo instrumental cheio de groove, de ritmo, onde tudo se casa ao mesmo tempo. O baixo parece conversar com a bateria, enquanto as guitarras entram no meio dessa dança.

Não à toa, era uma canção já premiada antes mesmo de chegar às plataformas. A composição de Pipa, Marlua e Fernanda Conegundes foi escolhida como a melhor de Vitória da Conquista e a terceira melhor da região do Sudoeste da Bahia no Festival de Música da Unimed Sudoeste (FAMUS).

“Quando você me olha, vejo estrelas

A boca brilha, nossa pele, beija-flor

Me rasga a língua, até se assanha, 

Íris negra, me assanha, toda cor”

Ela, o mar e eu, apesar de ser um projeto assinado por Pipa, com certeza é uma realização pessoal da Isadora, o nome de batismo da artista. É um trabalho onde ela traz a sua identidade, força e experiência adquirida ao longo dos anos de carreira e dos vários conjuntos que já fez parte até ter um próprio céu para chamar de seu e poder voar alto.

*Originalmente publicado em trocaodisco.com

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