Os cachês milionários no São João: ou as autoridades competentes impõem limites a essa farra, ou municípios vão se afundar em dívidas

Foto: Acessenews
Não adianta o MPE-BA (Ministério Público Estadual da Bahia), conceder o Selo da Transparência dos Festejos Juninos para os municípios que fazem essas festas grandiosas, pagando caro para alguns nomes da música da atualidade, argumentando que os gastos estão dentro da normalidade. Pois, de verdade, essa farra dos cachês milionários precisa acabar, porque no ritmo que está indo, vai levar muitos municípios a decretar crise financeira, logo, logo.
Só para você ter uma ideia, de 2022 para 2025, o valor para a contratação de Wesley Safadão, por exemplo, pulou de R$600 mil (Senhor do Bonfim), para R$1.100 milhão (Cruz das Almas). Quem diz isso, é o próprio Portal da Transparência (veja a evolução dos valores dele, no gráfico mais abaixo). – A pergunta é… por quê Cruz das Almas topou pagar dois aumentos consecutivos ao cantor, em dois anos, totalizando mais de 83%, em comparação a 2022?
Observem que as atrações que recebem os cachês milionários, nem são cantores de forró. O forró que deveria continuar sendo a “trilha sonora” dos palcos no São João.
E não me venham com esse “discurso pronto” de que essas atrações caríssimas, geram “emprego e renda” para parte da população desses municípios durante o período junino. Pois, quem verdadeiramente ganha dinheiro durante esses eventos, são os artistas e os staffs envolvidos nessas transações.
É bom que fique claro. Queremos um São João cada vez mais bonito e atrativo. Queremos a cidade movimentada, o comércio vendendo (como aconteceu com Cruz das Almas e outros municípios nesses dias). Queremos tudo isso. – Aliás, essa é a época mais emocionante para nós nordestinos. Basta entrar o mês de junho, já sentimos uma atmosfera diferente no ar. A fartura das comidas e bebidas, a alegria do povo, etc. E queremos festa com as presenças desses “fenômenos” da música, sim. Mas, não pagando esses absurdos.
O Painel da Transparência, criado recentemente pelo MP-BA e pelo TCE-BA (Tribuna de Contas do Estado da Bahia), visa mostrar para o público, os valores gastos pelas prefeituras para as contratações. Porém, somente isso, não basta. As autoridades competentes precisam tomar providências urgentes para limitar os preços desses cachês (nossa sugestão é um máximo de R500 mil) para as estrelas mais tops. Caso não façam isso, alguns municípios vão falir.
Sabem porque essa crise ainda não está tão nítida nas contas das prefeituras? Porque prefeitos e prefeitas estão apresentando obras realizadas com recursos de emendas parlamentares e parcerias com os governos dos estados, aí boa parte dos habitantes acha que eles estão trabalhando com recursos próprios. Com isso, aprova a ideia de gastarem o dinheiro do município com as contratações desses artistas para os festejos. – Só quê, mais cedo ou mais tarde, a verdade virá à tona.
Vejam os exemplos de grandes times da Série A do futebol brasileiro, onde alguns dirigentes fizeram contratações caras ao longo dos anos e deixaram os clubes mergulhados em dividas impagáveis.
Também, está na hora dos moradores desses municipios (apesar de apoiarem e lotarem esses shows), acordarem para a realidade da vida. Principalmente a joventude, que estuda, se prepara para o mercado de trabalho, mas esses mesmos prefeitos e prefeitas não se preocupam em criar estratégias para atrair empresas geraradoras de empregos de verdade para vocês.
O público que se diverte, também precisa ficar atento a esses gastos de milhões do nosso dinheiro
É inaceitável que em um país aonde grande parte dos trabalhadores rala um mês inteiro para ganhar pouco mais de R$1.500,00 – prefeituras que têm vários desses assalariados em suas folhas de pagamentos, desembolsarem R$600 mil, R$800 mil, R$1 milhão ou mais, para um determinado cantor ou cantora fazer um show de 1 hora e meia… e muita gente ainda bate palmas e diz que tá tudo certo. – Pois eu digo… não está.
Não duvide se potencialmente, em 90 minutos, esses cantores e cantoras ganhem mais grana do que o dono de uma empresa que gera centenas de empregos diários, paga impostos e ainda contribui para o dinheiro circular no comércio local, ganharia em uma semana. E esses artistas só aparecem uma vez por ano, recebem o Pix (50% antecipado) e vão embora com os outros 50% já na conta para gastarem lá fora.
Analisem aí… depois que essas prefeituras passaram a pagar essas cifras gigantes para essa galera da música (especialmente nesse período junino), as casas de shows e espaços de eventos que existiam nas cidades encerraram suas atividades, justamente por não conseguirem competir com essas contratações. Os próprios cantores e cantoras, depois que descobriram essa mina de ouro, nem fazem muita questão de cantar em festas privadas ou gravar músicas para vender CDs ou outros dispositivos com suas canções, levando à falência, muitas gravadoras e lojas que vendiam esses materiais.
Vale destacar que esses espaços de shows também geravam empregos diretos e indiretos, até mais que os proporcionados no mês de junho, visto que, muitas dessas casas, faziam diversos eventos durante o ano. Analisem também quanta gente ficou desempregada nas gravadoras e nas lojas que vendiam os materiais.
Sabemos que os tempos são outros… tecnologias e novas mídias de acesso gratuito às músicas, etc. Mas essa não é a questão. O foco aqui é o tamanho do problema que essas prefeituras estão causando ao mercado do entretenimento, com o engodo de estarem gerando rendas sazonais.
– Eu desafio e duvido, que se esses prefeitos fossem empresários da indústria do entretenimento, eles pagariam esses valores para trazer, por exemplo, Wesley Safadão, Gustavo Lima, etc, confiando nas bilheteiras e patrocinadores para pagar os cachês.
Ao abordar esse tema, não estou aqui querendo precificar o trabalho desses artistas, afinal, investiram em suas respectivas carreiras.
Mas a nossa sugestão, visa alertar para esse sangramento dos cofres públicos, com os gestores e gestoras pregando o falso discurso do emprego e renda para a população, quando na real, quem está levando a grana nessa farra, acredite, não é você cidadão e cidadã, que no dia a dia, sofrem as consequências da falta de assistências básicas nesses municípios.
Confira aí os valores do cachê de Safadão de 2022 à 2025… (fonte Portal da Transparência).
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*Dell Santana, é graduado em Comunicação Institucional (Faculdade Sumaré – SP), editor do Acesse News e filiado a ABI (Associação Baiana de Imprensa).
Fonte Acessenews