Fechamento de cruzamentos: a infração invisível que trava as cidades

Foto moonbh.com.br
É hora do rush. Um motorista apressado tenta atravessar o cruzamento, mesmo sabendo que o semáforo está prestes a fechar. Ele para bem no meio da interseção e, segundos depois, o sinal abre para os veículos que vêm pela via transversal — mas ninguém se move. Está formado o engarrafamento. A cena, infelizmente, se repete todos os dias nas grandes cidades brasileiras.
O ato de fechar cruzamentos — ou seja, parar o veículo sobre a área de interseção impedindo o fluxo de outras vias — é uma infração prevista no Artigo 183 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Considerada média, ela resulta em multa de R$ 130,16 e quatro pontos na carteira de habilitação. Mas, mais do que a penalidade, o comportamento revela uma grave falha de civilidade e planejamento no trânsito. É uma infração que muitos ignoram ou nem sabem que existe. Só que ela afeta o funcionamento do trânsito como um todo. Uma única atitude dessas pode travar quarteirões inteiros.
Transtornos em cadeia
Segundo especialistas, o fechamento de cruzamentos gera efeitos em cascata: prejudica o transporte público, dificulta a travessia de pedestres, aumenta a emissão de poluentes e eleva o risco de acidentes. Motoristas de ônibus e ambulâncias relatam que muitas vezes ficam presos em interseções bloqueadas por veículos impacientes.
Não adianta avançar se você não tem certeza de que conseguirá liberar a via. O trânsito é feito de fluxos coordenados, e isso exige paciência e respeito.
A pressa que atrasa todo mundo
A cena do motorista apressado não é apenas comum — é também reflexo de uma cultura de impunidade e egoísmo, segundo especialistas em comportamento no trânsito. O paradoxo é evidente: quem tenta ganhar segundos fechando um cruzamento, na prática, faz todos perderem minutos — inclusive ele mesmo.
É como um efeito dominó. Um veículo parado em posição errada trava toda a engrenagem. E o mais absurdo é que isso seria completamente evitável com um pouco mais de atenção e empatia.
O que diz a lei
O CTB é claro: “Parar o veículo na área de cruzamento, prejudicando a circulação de veículos e pedestres” é infração média, punida com multa. O artigo 183 complementa uma série de normas que tratam da fluidez e segurança no tráfego urbano. Mesmo assim, segundo dados do Detran-SP, essa é uma das infrações mais ignoradas e raramente fiscalizadas com rigor.
Cidades como Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo têm investido em campanhas educativas e reforço na sinalização horizontal (como o famoso “X amarelo” pintado no asfalto), mas o problema ainda persiste.
Educar é preciso
A longo prazo, a solução não está apenas na punição, mas na mudança de cultura. Projetos de educação no trânsito nas escolas, campanhas em redes sociais e maior visibilidade para esse tipo de infração são caminhos possíveis.
Temos que lembrar que cada um de nós é responsável por como o trânsito funciona. O volante dá poder, mas também impõe deveres. O espaço público precisa ser respeitado.
Dicas para não fechar o cruzamento
-
Observe o trânsito à frente antes de entrar na interseção.
-
Só avance se houver espaço suficiente para atravessar completamente.
-
Respeite a sinalização horizontal (linhas e marcas no chão).
-
Pense coletivamente: o trânsito é um sistema compartilhado.
Enquanto a pressa e a impaciência ditarem as regras atrás do volante, nossas cidades continuarão reféns de engarrafamentos evitáveis. Fechar um cruzamento pode parecer um gesto pequeno, mas é sintoma de um problema grande: a falta de consciência no trânsito.