Descaso e desorganização: futebol baiano afunda enquanto interior é abandonado pela FBF

O futebol da Bahia vive um dos seus momentos mais vergonhosos e dessalentadores da história. Enquanto Bahia e Vitória se apoiaram na elite do futebol brasileiro, por ordem de escudo para aparentar a normalidade, a restante do cenário estadual mergulhado em um caos inaceitável — sustentado por desorganização, abandono institucional e uma Federação Bahiana de Futebol (FBF) que parece fazer questão de virar as costas para os clubes do interior.
O Campeonato Baiano da Série B de 2025 escancarou esse descaso de maneira revoltante. Dos dez clubes participantes, apenas três (Vitória da Conquista, Fluminense de Feira e Bahia de Feira) tiveram mando de campo em suas sedes. Os outros sete, nômades, jogando longe de suas cidades, torcidas e realidades. Teixeira de Freitas, por exemplo, não jogou uma única vez em sua cidade — foi de Alagoinhas a Feira de Santana, peregrinando sem estrutura, sem apoio e, como se não bastasse, desistiu da competição a poucos dias do fim.
A desistência de Teixeira de Freitas, comunicada por e-mail à FBF em plena sexta-feira à noite, culminou num escândalo de situações inadmissíveis. Essa não foi a primeira vez: este clube já abandonou a competição anterior e voltou praticamente impune. O resultado mais cruel dessa reincidência não é apenas estatístico — é humano. Jogadores, comissões técnicas, funcionários e famílias inteiras foram afetadas. Gente que depende do futebol como meio de vida ficou desamparada da noite para o dia. Futebol é profissão, não passatempo.
UM CAMPEONATO PARA SER ESQUECIDO
A desorganização foi visível desde o início. Tabelas incompletas, rodadas anunciadas em cima da hora, locais de jogos indefinidos. Em pleno século XXI, o site da FBF divulgava partidas com "local a definir", dias antes da bola rolar. Como planejar logística? Como treinar? Como se organizar? A própria estrutura do campeonato já apontava para o fracasso.
O ECPP Vitória da Conquista é símbolo da resistência e do prejuízo. Rebaixado há alguns anos, afetado pela pandemia e sem apoio da Federação, o clube montou um elenco modesto, com jogadores da base e reforços locais, mas competitivo dentro das limitações. Venceu o Galícia fora de casa na penúltima rodada, reacendeu as chances de classificação e se manteve na briga até que o Teixeira de Freitas implodisse o campeonato.
A desistência do Teixeira resultou em três WOs a favor dos adversários. Com isso, o Ipiranga foi beneficiado artificialmente e, mesmo sem jogar, ultrapassou o Vitória da Conquista na tabela. A FBF, de maneira inacreditavelmente passiva, emitiu uma nota confirmando a exclusão do clube desistente e validando os WOs — como se isso não alterasse completamente a integridade da competição.
O jogo do Vitória da Conquista contra o Leônico, que ainda ocorreria, tornou-se irrelevante. A vaga que ainda era possível virou ilusão. Uma temporada inteira de esforços, investimentos e sacrifícios foi jogada no lixo por uma gestão que sequer cogitou alternativas justas.
NOSSA SUGESTÃO
Diante da situação atual, consideramos que seria fazer que apenas a realização de um relâmpago triangular entre ECPP, Galícia e Ipiranga para definir quem avançaria às semifinais. Seria uma medida justa e decente. Mas, sinceramente, não acreditamos que a Federação irá melo menos cogitar.
Esse episódio é apenas mais um capítulo de um histórico de negligência com o futebol do interior baiano. Cidades importantes como Vitória da Conquista, com mais de 400 mil habitantes, estão sendo empurradas para fora do mapa esportivo por falta de incentivo, estrutura e vontade política da entidade que deveria proteger o futebol baiano.
A Bahia já foi protagonista no cenário nacional, como o título nacional da Bahia no final do século passado. Hoje, restamos os escombros de uma gestão que faz vista grossa para o sofrimento dos pequenos clubes, preferindo a inércia ao comprometimento.
O FUTURO? INCERTO E DESMOTIVADOR
O que está acontecendo com o futebol baiano não é apenas uma questão de má administração: é um atentado à dignidade dos clubes, dos atletas, das torcidas e de toda uma cultura esportiva.
Enquanto a Federação Bahiana de Futebol continua tratando o interior como um fardo e se esconde atrás da fachada de dois clubes da Série A, o futebol do estado seguirá encolhendo. Mais do que lamentar, é preciso cobrar. Porque o que se viu em 2025 não pode — e não deve — se repetir.