Giulia Santana fala sobre livros, processo criativo e o espaço da blogosfera no primeiro episódio do podcast Correspondência Literária

Giulia Santana, jornalista musical, autora de dois livros e dona do blog Quebrei a máquina de escrever. Foto: Ane Xavier
Escrever é, para muitos, uma jornada marcada por descobertas e adaptações. No episódio inaugural do podcast Correspondência Literária, Giulia Santana, autora independente, com duas obras publicadas e mais de 14 anos de experiência com o blog Quebrei a máquina de escrever, compartilhou com Ane Xavier detalhes do seu processo criativo, o papel da música em sua escrita e as transformações ao longo de sua trajetória na blogosfera.
O Correspondência Literária é produzido e apresentado por Ane Xavier, com direção de áudio de Danilo Souza e publicação da Mega.
A escrita como escuta
Ao longo do episódio, Giulia explicou que boa parte de seu processo é guiada pela escuta. Escreve quando ouve algo — uma frase, uma imagem, uma música — que ecoa o suficiente para virar texto. “Muitas vezes eu escrevo de forma intuitiva. Não sei o que estou dizendo até terminar. E aí, quando releio, percebo: era isso que eu queria dizer.”
Essa intuição aparece também na construção de seus personagens. No livro A Linha de Rumo, por exemplo, os nomes foram retirados de canções. “A Marlena, por exemplo, veio de uma música que nem foi lançada oficialmente. Mas o nome ficou, e foi ele que conduziu a personagem”, disse.
Entre blogs, cartas e playlists de sete faixas
Criada entre romances e blogs pessoais, Júlia reconhece a influência da blogosfera na sua formação como escritora. “Se eu pudesse dizer algo para mim aos 13 anos, seria: ‘estude a blogosfera’. Teria me poupado muitas frustrações”, disse, ao final da entrevista.
Outra marca de seu processo criativo é a relação com a música. Giulia revela que sua relação com playlists é mais espontânea do que planejada: “Normalmente, eu associo uma música ou outra, e minhas playlists acabam tendo cinco ou sete músicas no máximo. Quando tento estender para criar uma playlist maior, sinto que fica forçado, porque não são mais as músicas que realmente me tocam, e sim eu tentando construir uma narrativa.” Para ela, o processo é mais orgânico: ouvir as faixas repetidas vezes enquanto escreve, deixando a música guiar a inspiração.
A fala reflete uma tensão comum entre escritores contemporâneos: como sustentar uma escrita autoral quando não há prazos, nem editoras, nem leitores cobrando? Para Giulia, a saída tem sido tratar a própria produção com o mesmo rigor que reserva a tarefas profissionais: “O compromisso que eu tenho com meu trabalho que me paga, eu tento ter comigo mesma. Depois a gente melhora, depois a gente desenvolve.”
A entrevista completa está disponível no Spotify.