Más influências: das irrelevâncias aos jogos de azar, passando pela violência

Foto: Reprodução
Eu não conhecia a história do advogado criminalista João Neto até ele ser preso por agredir uma companheira, há duas semanas. Já tinha, sim, visto um corte ou outro de suas participações em podcasts, no Instagram. O algoritmo às vezes nos traz umas coisas um tanto esquisitas, convenhamos. Por se tratar de um profissional muito conhecido, “estourado” nas redes sociais, sua prisão ganhou destaque nos noticiários, e, naturalmente, sua trajetória também.
E de repente descobriu que, apesar de se apresentar como ex-policial militar da Bahia, João Neto não chegou nem a se formar soldado. De acordo com nota da Polícia Militar da Bahia (PMBA), foi expulso antes disso, por irregularidades numa avaliação. O advogado admitido foi expulso, mas, como destaca uma matéria do portal de notícias UOL, no dia 19 de abril, tinha outra versão sobre o motivo. Dizia que o seu desligamento foi devido a uma discussão e por assédio à esposa de um coronel. Ele contornou (sem nenhum constrangimento) numa participação no PodZé, comandado pelo apresentador Zé Eduardo, o “Bocão”, que teria chamado a mulher de “gostosa” durante um desentendimento no trânsito.
O UOL destacou ainda que numa entrevista a um outro podcast, o advogado disse que em sua época de policial, andava com um “kit flagrante”, composto por droga, balança de precisão e dinheiro, para plantá-lo nos objetos pessoais de quem pretendia prender. Uma conduta nada ética por parte de um agente do Estado. No entanto, segundo a PMBA, João Neto nunca atuou nas ruas como policial formado. Então essas histórias que ele vivia contando sobre “seu tempo de polícia” eram mentiras? Pois é! Parece que sim. Sendo mentira ou verdade, o fato é que muito do que ele falava era exemplo do que não se deveria fazer. Acontece, porém, que ele tem mais de dois milhões de seguidores no Instagram.
Num país como o nosso, onde boa parte da população foi inserida no universo digital antes mesmo de se alfabetizar direito, há um imenso solo fértil para que germinem, aos montes, subcelebridades que passam a influenciar o modo como as pessoas enxergam o mundo e como vivem. E o que acontece muitas vezes é uma completa mudança de valores, quando a ostentação de bens materiais se torna mais importante do que cultura, educação e ética nas relações. Gente como Carlinhos Maia, Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra prestam um grande desserviço à sociedade.
Aliás, quando se fala sobre ética, ou melhor, sobre a falta dela, os dedos logo apontam para aqueles que fazem a política de representação no executivo e no legislativo, enquanto comportamentos antiéticos de personalidades da TV, do meio musical e das redes sociais, como a divulgação de jogos de azar – que têm causa dependência e grande prejuízo financeiro a muitas pessoas –, são perdoados ou ignorados.
A violência é outro ponto que merece atenção. Repare como ela vem sendo banalizada! Aquilo que realmente agrega, que nossas riquezas enquanto cidadãos vão ficar de lado. Em seu lugar surge, entre outros elementos, a exaltação da brutalidade e muita futilidade. Inúmeras bobagens que rendem visualizações, curtidas e dinheiro.
Hoje, no Brasil, uma parcela significativa das pessoas com visibilidade não tem compromisso com o seu público. Para eles o que importa é somente o retorno financeiro. Por outro lado, muita gente não reflete sobre aquilo que vem consumindo, seja por incapacidade de construir um pensamento mais crítico, seja por preguiça. O resultado é esse festival de inutilidades e incentivo às práticas nocivas, que reverbera em todo o corpo social.
O fato de João Neto ter sido preso por agredir uma namorada já é notícia velha, mas a reflexão sobre como é possível um advogado com diversas falas problemáticas (inclusive numa delas já admitindo uma hipótese para agressão às mulheres) tem mais de dois milhões de seguidores numa rede social, é atual e urgente. Afinal, para onde estamos caminhando?
Thaty Miranda: jornalista, radialista, viajante, concurseira, baiana, ariana e apaixonada pela vida!