Em abril de 1985, o Brasil recebeu a notícia da morte de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito após o regime militar, mas que nunca tomou posse. Quatro décadas depois, seu nome ainda é lembrado em todo o país, inclusive em Vitória da Conquista, onde batiza um dos principais cartões-postais da cidade, a Praça Tancredo Neves. Mas por qual motivo o político mineiro recebeu essa homenagem no Sudoeste da Bahia?

O momento político do Brasil na eleição de Tancredo

Após anos árduos da Ditadura Militar, a população brasileira aos poucos voltava a sentir que poderia exercer o direito de escolher quem seria o seu representante. Apesar de que em 1985 as eleições ainda eram indiretas, Tancredo Neves era um opositor da ideia do regime e foi um nome importante para a parte final da transição que resultaria na redemocratização do país já na próxima eleição, em 1989.

Escolhido para suceder o general João Figueiredo na Presidência da República, Tancredo foi hospitalizado um dia antes da sua posse, em 14 de março de 1985, com fortes dores abdominais. Após realizar sete cirurgias e ficar por 39 dias internado, o então presidente eleito morreu em São Paulo, aos 75 anos, no dia 21 de abril daquele ano.

“Lamento informar que o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração [InCor], às 10 horas e 23 minutos [22h23]”, anunciou o porta-voz Antônio Britto, em um comunicado transmitido ao vivo para todo o Brasil. 

Tancredo Neves, primeiro presidente eleito do Brasil após a Ditadura Militar. Foto: Wikimedia Commons

A missão de governar o país de forma interina ficou sob a responsabilidade de José Sarney, que já dirigia o governo desde 15 de março, após a internação de Tancredo, e que assumiu em definitivo depois da morte do presidente. Ele convocou a assembleia que redigiu a Constituição de 1988 e entregou, em março de 1990, o poder a Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960.

A Praça Tancredo Neves... antes de Tancredo

O espaço que hoje é conhecido como Praça Tancredo Neves já teve vários outros nomes anteriormente. O primeiro deles foi “Praça da República”, o nome oficial do pedaço de terra coberto por jardins e plantas ornamentais, em frente à catedral. A configuração arquitetônica do espaço também era muito diferente do atual aspecto. Havia parque infantil e, a partir do final dos anos 1940, chegou a abrigar um ringue de patinação, entre outras opções de lazer, segundo a Prefeitura Municipal.

Na década seguinte, em dezembro de 1956, a Praça foi rebatizada, tornando-se o “Jardim das Borboletas”. O local também era conhecido como Jardim Público ou Praça do Fórum, por, naquela época, estar próximo ao antigo prédio do fórum, que hoje funciona como o Museu Regional de Vitória da Conquista.

O espaço era ponto de encontro, de contemplação e também de eventos políticos e religiosos – a principal igreja da cidade, a Catedral Metropolitana Nossa Senhora das Vitórias, fica na Praça.

Durante o século XX, o Jardim passou por uma série de reformas. A sua arborização foi ampliada, o paisagismo foi modernizado e, aos poucos, ele foi se tornando um dos principais pontos da cidade. A construção do Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos, em frente ao local, reforçou ainda mais seu vínculo com a memória histórica e os direitos humanos.

Como era o Jardim das Borboletas, em Vitória da Conquista. O site Fotos Antigas de Vitória da Conquista, que publicou o registro, o credita como de maio de 1974.

A Praça e o presidente

Com a morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, o Brasil voltava a enfrentar um momento difícil. Para boa parte dos brasileiros, ele era o símbolo da redemocratização e a esperança de tempos melhores após duas décadas de regime militar.

Em Vitória da Conquista, o sentimento era o mesmo. Pouco tempo após sua morte, a então administração municipal decidiu em rebatizar mais uma vez o espaço central da cidade, optando por homenagear Tancredo Neves, fazendo com que o Jardim das Borboletas se tornasse a Praça Tancredo Neves. A decisão foi tomada por meio de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal. O gesto refletia não apenas um tributo a Tancredo, mas também uma afirmação da identidade democrática da cidade.

Aécio Neves, neto de Tancredo, esteve em Vitória da Conquista representando a Família Neves durante a inauguração da Praça. Foto: Site Fotos Antigas de Vitória da Conquista

Por estar na região central do município, a Praça naturalmente atrai bastante público e de todas as idades. Apesar de não haver dados oficiais da quantidade anual de visitantes, acredita-se que ultrapasse a casa das 100 mil visitas, principalmente por conta do período natalino, quando o local é decorado com luzes.

Outras ligações entre Tancredo e Vitória da Conquista

Tancredo Neves não possui nenhuma ligação direta com a cidade de Vitória da Conquista, como projetos de lei ou até mesmo visitas ao município, entretanto, sua postura influenciou de forma indireta na política local por fatores como a liberdade partidária após a redemocratização – durante a ditadura, só existiam dois partidos políticos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que sustentava o regime militar, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era oposto ao regime. 

Após a redemocratização, com novos partidos, consequentemente também surgiram novas lideranças políticas em Vitória da Conquista nas décadas seguintes, como Murilo Mármore, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), entre 1989 e 1993, Guilherme Menezes, do Partido dos Trabalhadores (PT), entre 2009 e 2017, e atualmente Sheila Lemos, do União Brasil, que está em seu segundo mandato.