Amianto ainda contamina moradores de cidades do sudoeste da Bahia, aponta pesquisa do MPT

Mina de São Félix, em Bom Jesus da Serra — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
Uma pesquisa realizada pelo Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) revelou que moradores de municípios do sudoeste baiano seguem expostos aos riscos do amianto, mesmo após o encerramento da mineração na região há quase seis décadas.
O estudo, divulgado em abril de 2025, avaliou 584 pessoas de Bom Jesus da Serra, Caetanos, Poções e Planalto. Desse total, 66 foram diagnosticadas com uma ou mais doenças relacionadas ao amianto (DRA). O levantamento indica uma contaminação ambiental persistente, que ainda coloca em risco cerca de 65 mil pessoas que vivem na região.
A pesquisa foi feita entre os dias 2 e 20 de setembro de 2024, com participação da Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (Abrea) e da Associação das Vítimas Contaminadas pelo Amianto e Famílias Expostas (Avicafe). Também colaboraram equipes médicas do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), da Fiocruz e do Hospital do Câncer de Barretos.
Contaminação por amianto afeta trabalhadores e moradores
Do total de avaliados, 30% tiveram exposição ocupacional ao amianto, e 70% relataram exposição ambiental, por meio de contato indireto com o mineral. Os exames foram realizados por tomografia computadorizada de baixa dose de radiação, indicada para rastreamento precoce de câncer de pulmão e outras doenças pulmonares graves.
A procuradora regional do Trabalho, Marcia Kamei, destacou que o diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de tratamento bem-sucedido. O MPT destinou mais de R$ 540 mil para exames e acompanhamento, com recursos vindos de ações judiciais contra empresas que descumpriram a legislação trabalhista.
Mina de amianto deixou rastro de contaminação
A exposição ao amianto na região está ligada à antiga mina de São Félix, localizada em Bom Jesus da Serra, que funcionou entre 1939 e 1967. A extração foi inicialmente realizada pelo grupo francês Saint-Gobain (representado no Brasil pela Brasilit) e, posteriormente, pela Sama S.A., que integra o grupo Eternit.
Mesmo desativada há quase 60 anos, a mina nunca passou por um processo de remediação ambiental. Segundo o MPT, a contaminação continua. Estruturas como casas, escolas, estradas e até cemitérios foram construídas com pedras de amianto doadas pela empresa. Esses materiais ainda liberam microfibras cancerígenas no ar, colocando em risco a saúde de gerações inteiras.
Amianto é reconhecido como cancerígeno pela OMS
O amianto, usado no passado em telhas, caixas d’água, tubulações, discos de embreagem e papelões, teve seu uso proibido no Brasil. Desde 1991, a variedade anfibólio está banida. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o uso da variedade crisotila, também chamada de amianto branco.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que todas as formas de amianto são cancerígenas, e alerta que não existe um nível seguro de exposição. A OMS estima que 50% das mortes causadas por doenças ocupacionais estão ligadas à exposição ao amianto.
Recomendações e ações futuras
O relatório final da pesquisa recomenda que os casos diagnosticados sejam registrados em bases como Sinan, SIM e Datamianto, e que seja criado um centro regional especializado em doenças pulmonares para acompanhar a população.
Além disso, o MPT e os órgãos parceiros cobram a realização de medidas urgentes de contenção da contaminação, além de ações de reparação para os moradores afetados, incluindo cuidados médicos e indenizações.
*Com informações do G1 e Agência Sertão