Mães atípicas cobram inclusão e acesso a direitos em audiência pública na Câmara de Vereadores

  • Da Mega
  • Atualizado: 09/04/2025, 11:17h

A Câmara Municipal de Vitória da Conquista realizou, na tarde desta terça-feira (8), uma audiência pública para marcar duas datas: o Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado em 21 de março, e o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado em 2 de abril. A atividade foi proposta pelo mandato da vereadora Márcia Viviane (PT).

A Síndrome de Down é uma alteração genética que afeta cerca de 1 a cada 700 nascimentos. Já o Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o IBGE, pode afetar aproximadamente 2% da população brasileira. Esses números falam de milhares de famílias, de crianças, adolescentes, jovens e adultos que têm buscado dignidade, respeito e políticas públicas efetivas.

Segundo a parlamentar, Vitória da Conquista precisa avançar na oferta de atendimentos qualificados, no diagnóstico precoce, na inclusão escolar e na atenção à saúde dessas pessoas. “É urgente garantir acesso aos direitos previstos em lei, com estruturas adequadas e profissionais preparados”, afirmou Viviane, ressaltando a importância de uma luta coletiva.

“Sabemos que a jornada das famílias, especialmente das mães, é marcada por desafios diários: dificuldade de acesso a especialistas, ausência de atendimento contínuo, longas esperas por laudos e acompanhamentos, e a sobrecarga emocional e financeira. A rede municipal precisa reconhecer e responder a essas demandas com responsabilidade, sensibilidade e compromisso”, afirmou.

A vereadora Cris Rocha (MDB) destacou sua trajetória de mais de 20 anos em defesa das pessoas com deficiência e cobrou ações concretas para garantir acessibilidade, inclusão e atendimento digno. Com base em sua experiência pessoal e institucional, ela defendeu melhorias na saúde pública, mobilidade urbana e educação inclusiva, e apresentou três projetos de lei: o Selo de Acessibilidade, semáforos sonoros e a criação de um Centro de Referência para pessoas com TEA. “Acreditem, porque tem pessoas no legislativo que querem lutar por vocês”, afirmou, reforçando a importância da união na luta por direitos reais e efetivos.

Mães atípicas enfrentam sobrecarga e falta de apoio adequado

A professora e mãe atípica Daniela Magalhães se emocionou ao relatar a realidade de mulheres que criam filhos com deficiência. “Somos a mãe que ninguém quer ser, mas que exige de nós sermos as melhores”, afirmou. Ela destacou o impacto físico e emocional da jornada dupla enfrentada por essas mães, citando pesquisas que apontam redução de até 30% na expectativa de vida dessas mulheres. 

Daniela também criticou o mercado que lucra com o autismo, cobrando preços abusivos por produtos e serviços voltados a crianças atípicas. “Só queremos que nossos filhos vivam sua humanidade como qualquer outro”, disse.

“Hoje não é dia de comemoração, é dia de luta”

O Dr. Náfille Brito, representante da Comissão da Pessoa com Deficiência da OAB e pessoa autista, destacou que o mundo ainda não é feito para pessoas autistas, e que essa luta é principalmente das mães, que enfrentam diariamente o descaso e a negligência. Náfille também criticou a superficialidade com que o autismo é tratado pela sociedade. “Nossa comunidade é preconceituosa e só lembra do autista em abril. E, mesmo nas comemorações, não pensam nos autistas. Fazem caminhada que muitos de nós não podemos participar”, contou.

“Que inclusão social é essa do nosso dia a dia?”

Maria do Carmo de Jesus Ferreira, presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Vitória da Conquista (APAE), destacou que muitas vezes se fala em inclusão social, mas na prática as ações não são efetivas. Ela ressaltou que ainda faltam medidas concretas na educação, na saúde e no mercado de trabalho para garantir uma inclusão verdadeira, pois, apesar das leis e discursos, não há inserção nas práticas do cotidiano.

Como exemplo, citou a falta de profissionais qualificados para acompanhar alunos especiais. No mercado de trabalho, apontou que, embora a contratação de pessoas com deficiência seja garantida por lei, faltam políticas que assegurem a permanência desses profissionais, já que a locomoção é difícil e as condições de trabalho nem sempre são acessíveis. “Precisamos juntar forças e buscar efetivamente a inclusão, que é tanto falada, com respeito e paciência”, concluiu.

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