Dia Nacional do Jornalista: um breve retrospecto sobre a história da data e do Jornalismo no Brasil
Nesta segunda-feira (7) é o Dia Nacional do Jornalista, data comemorada há noventa e quatro anos – desde 1931 – quando foi instituída pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em homenagem a Giovanni Batista Líbero Badaró, jornalista morto em 1830 por inimigos políticos. Nesta reportagem, veja sobre a história da data e um breve retrospecto do Jornalismo no Brasil ao longo de quase cem anos.
Líbero Badaró e a luta pela liberdade de expressão na era da Monarquia
Antes de detalhar sobre o Dia do Jornalista, primeiro, é necssário conhecer quem motivou a criação desta data. O jornalista Líbero Badaró era um oposicionista ao imperador Dom Pedro I e publicava seus trabalhos no Observatório Constitucional, um jornal independente criado por ele e que abordava sobre temas políticos que eram censurados pelo monarca.
A luta pela liberdade de expressão custou caro, já que Badaró pagou com a própria vida. Sua morte se deu por conta das denúncias que ele fazia contra o governo do imperador e também por conta da sua ideologia que contrariava as pessoas com poder naquela época.
Um desenho que retrata o jornalista Líbero Badaró, feito por Tancredo de Amaral.
Já havia indícios de uma crise no governo de Dom Pedro I, entretanto, após a morte do jornalista, iniciou-se uma revolta popular e política ainda mais intensa contra a repressão do imperador. Com o apoio de forças políticas contra o governo, além da própria população, em 7 de abril de 1831, Dom Pedro I optou por renunciar do cargo, também motivado por atos violentos que estavam acontecendo com uma frequência constante.
Os primeiros jornais brasileiros
O primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense (sim, com z), ironicamente, não era produzido no Brasil. O CB foi fundado em primeiro de junho de 1808 pelo jornalista Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, em Londres, na Inglaterra, e circulou de forma semanal durante quatorze anos, até primeiro de dezembro de 1822.
Era caro produzir um jornal naquela época, por isso poucos exemplares eram impressos por edição. Um outro fator que dificultava a popularização do Correio Braziliense era a taxa de analfabetismo da população brasileira no século XIX – o jornal esteve em circulação em um período em que a escravidão ainda não havia sido abolida.
Muitos anos depois, já após a abolição da escravatura e por conta de avanços na educação básica e no barateamento de custos, produzir um jornal tornou-se uma tarefa mais acessível. Os materiais, que antes eram veiculados uma vez por semana, passaram a ser periódicos e também contavam com imagens além dos textos.
Dos primeiros anos do Jornalismo no Brasil, destacam-se os jornais Gazeta do Rio de Janeiro, também fundado em 1808, mas em setembro, três meses depois do Correio Braziliense, Folha de São Paulo, A República, que defendia os interesses do governo, O Paiz e o Jornal do Brasil.
Primeira edição do Correio Braziliense, em 1808. Foto: Reprodução
A criação da Associação Brasileira de Imprensa e a consolidação dos direitos dos jornalistas
No aniversário de 77 anos da renúncia do imperador, em 7 de abril de 1908, foi criada a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que visava consolidar os direitos dos jornalistas e legitimar a profissão. O idealizador da ABI, Gustavo Lacerda, enxergava o jornalismo de uma forma diferente do que era praticado naquele período, onde as notícias eram vendidas como uma mercadoria e/ou publicidade para empresas, sem necessariamente apresentar um conteúdo crítico e de utilidade pública.
Por conta dessa postura, no início a entidade sofreu boicotes de empresários, que tentavam descredibilizar e relevância da ABI, mas essa estratégia se enfraqueceu e não funcionou mais ao longo dos anos.
A primeira faculdade de Jornalismo do país tem menos de cem anos de história
Mesmo com diversos jornais circulando, a maioria das pessoas responsáveis por essas publicações não tinham uma formação acadêmica em Jornalismo. Foi só em 1947 que o primeiro curso chegou ao Brasil, ofertado pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero. A partir da década de 60, também era possível cursar Jornalismo nas Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN) – que anteriormente era a Faculdade Eloy de Souza – Goiás (UFG) e Amazonas (UFAM), além da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Já no fim dos anos 60, em 1969, ter diploma de graduação tornou-se uma exigência para trabalhar no Jornalismo, o que também ajudou a criar especializações para profissionais da Comunicação.
Entretanto, em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a exigência do diploma para exercício da profissão com a justificativa de que "exigir tal formação cerceava o direito à informação e à liberdade de expressão e que o diploma, além de servir apenas aos interesses das instituições de ensino superior, foi exigido em um período de repressão, isto é, durante a ditadura militar no Brasil."
Desde então, entidades e sindicatos de Jornalismo, como o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), batalham pelo retorno da exigência.
Faculdade Cásper Líbero, que ofereceu o primeiro curso de Jornalismo da história do Brasil. Foto: Reprodução
O Jornalismo na era digital
O Jornalismo não só acompanha como também documenta as mudanças do mundo. Em meio ao impresso, a Rádio chegou, então foi preciso se adaptar. Depois, com a Rádio consolidada, veio a TV; depois da TV, a Internet, e assim sucessivamente. Ser jornalista hoje é saber lidar com cada um dos tipos de comunicação, como o texto, a fala, os sinais e as expressões faciais, além dos diversos subtópicos existentes em cada uma das vertentes.
É preciso saber escrever bem, mas, sobretudo, ler. Falar com calma, de forma compreensível, mas ter o dobro de atenção na escuta. Ao pensar no Jornalismo na Internet, se abre um leque de oportunidades. A pauta, o encaminhamento, a gravação, edição, enfim, tudo, pode ser feito por um celular e com um resultado igual ou melhor que a TV em décadas passadas.
Há quem tenha medo da evolução das IA’s e como isso vai impactar no Jornalismo, mas os humanos ainda tem uma vantagem que as máquinas podem demorar para alcançar (e tomara que nunca alcancem), que é ser uma pessoa real lidando com pessoas reais.
Um bom jornalista sabe que é apenas uma ponte entre um problema e uma solução ou um caminho a mais para que a população possa se sentir representada, com o direito de exercer a liberdade de expressão, tão sonhada por Líbero Badaró, com responsabilidade, ética e propósito.
Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.