Movimento Cultural de Vitória da Conquista realiza abaixo-assinado para conseguir a revitalização do Cine Madrigal

  • Danilo Souza
  • Atualizado: 09/01/2025, 11:11h

O Cine Madrigal, situado na região central da cidade, é um dos equipamentos culturais mais importantes da história de Vitória da Conquista, entretanto, se encontra fechado há quase duas décadas, desde 2007. Foi neste contexto que o Movimento Cultural de Vitória da Conquista decidiu realizar um abaixo-assinado para sinalizar o interesse da população em ver o cinema reaberto e, quem sabe, ver a gestão atual abraçando este apelo.

Nesta matéria, será apresentado um breve retrospecto da história do Cine, do seu surgimento até o descaso, pode-se assim dizer, em que se encontra nos últimos anos.

Fachada do Cine Madrigal, no centro de Vitória da Conquista. Foto: Danilo Souza

A história do Cine Madrigal

O Cine Madrigal deu início às atividades há 57 anos, em maio de 1968, quando muitos de nós que estamos lendo isso nem mesmo ainda pensávamos em nascer. De acordo com a Prefeitura, o filme que marcou a estreia do espaço cultural foi “A Noite dos Generais”, do diretor ucrâniano Anatole Litvak. Ao longo dos anos, diversos filmes, incluindo grandes clássicos do cinema nacional e internacional, foram exibidos na tela do Cine, que foi responsável por criar memórias em conquistenses de todas as idades, até encerrar as atividades oficialmente, em 2007.

Sete anos depois, em 2014, o então prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes (PT), adquiriu o espaço durante a sua gestão, por meio da Secretaria Municipal de Administração. Na ocasião, Menezes declarou, ao assinar o documento que oficializou a aquisição, que aquele momento marcava o renascimento do Cine Madrigal. Na matéria publicada pela Secretaria de Comunicação do município, na época, foi alegado que “o local será reformado e destinado a atividades culturais e educacionais, além de exibições de filmes que não estão incluídos no circuito comercial”.

A reforma que começou, mas nunca terminou

Apesar das declarações vindas da Gestão Municipal, que pareciam gerar esperança, os anos foram passando e a reforma nunca foi concluída. Guilherme Menezes deixou de ser prefeito dois anos depois, em 2016, quando Herzem Gusmão (PMDB) venceu as eleições municipais e passou a ser o novo gestor da cidade. Mesmo com a mudança de partido e de ideologia política, a nova gestão também se mostrava empenhada em trazer de volta o Cine Madrigal.

Entretanto, em 2020, Herzem nos deixou, devido à pandemia de Covid-19, e não viu a reforma ser concluída. A gestão do município agora era responsabilidade de Sheila Lemos (União Brasil) que, assim como os prefeitos anteriores, também demonstrou interesse na revitalização do espaço.

Ainda de acordo com a Prefeitura, “em 2018, na gestão do ex-prefeito Herzem Gusmão, houve a retomada da reforma do espaço. Com a revitalização proposta pela prefeita Sheila Lemos, além de preservação da memória, o novo Madrigal terá a missão de abrigar eventos culturais, artísticos e educativos, com sala de cinema e palco móvel e a possibilidade, ainda, para conferências, cursos e palestras”.

Após começar a perder a esperança, artistas começam a fazer manifestações

Em tempos mais recentes, já em 2023, o Coletivo Setor Audiovisual do Sudoeste da Bahia (SASB) realizou um manifesto, intitulado “Madrigal – Lugar de Cinemas, de Culturas e de Memórias”, que foi aprovado pelos membros do Conselho Municipal de Cultura. No documento, cineastas, roteiristas, diretores, professores e trabalhadores em geral do setor audiovisual defendiam que o espaço voltasse a ser usado pela população como um cinema, com a estruturação adequada.

O coletivo também alegava que Vitória da Conquista não possui mais nenhum cinema de rua, já que agora os únicos cinemas da cidade ficam dentro de shoppings, o que torna difícil a exibição de filmes nacionais, que tendem a serem “ofuscados” por nomes maiores vindo do exterior. Em uma publicação no Instagram, o Coletivo Sasb escreveu: “[São] exibições predominantemente de blockbusters norte-americanos e, em raras exceções na sua grade de programação, [o shopping] coloca em cartaz as dezenas de produções cinematográficas brasileiras, baianas e conquistenses, filmes de longas e curtas-metragens, de grande sucesso de público e premiações conquistadas em todo o país e no mundo”.

Sempre que foi procurada por algum veículo de comunicação, inclusive a própria Mega, para dar um esclarecimento sobre a situação, a Prefeitura não emitiu resposta. Nesse momento, já haviam se passado nove anos desde a aquisição do Cine Madrigal.

Um pouco mais de um ano depois do manifesto feito pelo coletivo Sasb, outro grupo de artistas da cidade iniciou um abaixo-assinado que aborda a revitalização não só do Cine, mas também da Casa Glauber Rocha e o do Teatro Carlos Jehovah, mostrando que o descaso com a cultura não é um caso relacionado somente ao Madrigal.

Veja abaixo um trecho da nota do Coletivo Movimenta Cultura Conquista, onde são abordadas as razões que levaram à criação do abaixo-assinado. No momento da produção dessa reportagem, no dia 09 de janeiro de 2025, quase 1500 assinaturas já haviam sido coletadas.

“O coletivo Movimenta Cultura Conquista, composto por trabalhadores da Cultura, professores, pesquisadores, representantes de diferentes linguagens, reunidos no Encontro do Setor Cultural nos dias 24 de setembro e 02 de outubro de 2024, no Auditório da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de Vitória da Conquista/BA, debateu a realidade do setor cultural, apresentando assim um apanhado geral e profundo de como se apresentam as demandas do setor na cidade.

Através do referido documento, apresentamos as reivindicações e propostas aos representantes do poder Executivo e Legislativo da cidade, tornando o mesmo um documento público à sociedade, com o objetivo de apontar melhores condições de trabalho e fortalecer o setor cultural da cidade de Vitória da Conquista.

Dentre as reivindicações mais emergentes: a revitalização do Teatro Carlos Jehovah, Casa de Glauber Rocha (Rua 2 de julho, Centro) e do Cine Madrigal, a fim de que esses equipamentos culturais sirvam de forma efetiva aos artistas e produtores locais.”

A carta-proposta produzida pelo Coletivo, que traz ainda tópicos como a criação de Espaços Comunitários de Cultura e a criação de uma Fundação Municipal de Cultura, por exemplo, pode ser acessada na íntegra aqui. Já o abaixo-assinado é virtual e pede apenas nome, sobrenome e um email para que a assinatura seja contada. Acesse-o clicando aqui.

Veja também: Qual será o futuro da casa de Glauber Rocha?

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