Agosto Lilás é adotado como campanha nacional
Foto:Roque de Sá/Agência Senado
A questão da violência contra a mulher ganhou a partir de agora uma campanha específica, anual e permanente de conscientização, que já começou a ser realizada em todo o país. Trata-se do Agosto Lilás, uma iniciativa que dedica o mês de agosto à proteção da mulher e ao combate à violência doméstica.
No último dia 10, o Senado Federal aprovou um projeto de lei que determina a promoção e realização, tanto em nível federal quanto pelos Estados e Municípios, de ações de conscientização e esclarecimento sobre as diferentes formas de violência contra a mulher.
O projeto já foi aprovado também na Câmara dos Deputados e ainda aguarda a sanção da Presidência da República.
Para além dos dados, o Agosto Lilás desperta a importância de se discutir sobre esse tema como forma de conscientizar a população e encorajar as mulheres vítimas, inclusive questionando “verdades” e mudando conceitos sobre o que é ser mulher e qual o seu lugar na sociedade. De acordo com a psicóloga e professora Marcela Teti,o curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França (FSLF), a mulher é constantemente colocada como coadjuvante e tratada de forma pejorativa em sociedades machistas e patriarcais, como a ocidental moderna.
“De um lado, ela é colocada como a ama do lar, recatada e obediente, responsável pelo cuidado do ambiente doméstico e do desenvolvimento dos filhos. De outro, ela é posta como a selvagem natural, lasciva, objeto de satisfação de desejos. Nos dois casos, observamos a mulher como condição de objeto. Seja como burguesa ou naturalizada, estando à margem da sociedade, a mulher não é representada como partícipe da coletividade a que pertence. Esta forma de simbolizar o feminino apresenta a mulher como objeto, quiçá “presente da criação”, para fortalecimento e desenvolvimento dos homens”, ressaltou.
Ainda segundo Marcela, a campanha do Agosto Lilás vem num momento oportuno, mostrando a todos que estas formas de entender o feminino na sociedade produzem violência. “Tanto a mulher obediente, como a selvagem, são vistos como “instrumentos” que devem ser ‘controlados’ e ‘domados’. É esta ideia de que a mulher é propriedade de um homem que coloca para eles o direito de agredir fisicamente, verbalmente, sexualmente, patrimonialmente ou o direito de matá-las. É este modo também de se enxergar que impõe às mulheres que elas são inferiores, não tão inteligentes. A analogia de que toda mulher é uma flor só representa o papel de enfeite que ela exerce em muitas famílias”, esclarece Marcela.
A psicóloga também destaca que fazer parte de uma família não faz da mulher propriedade de ninguém, e uma vida afirmativa deve ser preservada. A fim de evitar situações de violência doméstica, ou de proteger as mulheres para que não se tornem vítimas, todas as profissões devem se engajar em entender qualquer ser humano como digno de direito.
Entre elas, de acordo com Marcela, está a própria Psicologia, que detém hoje cerca de 80% das profissionais formadas, e uma maioria de mulheres como clientes.
“Estas mulheres que chegam ao consultório, muitas delas aparecem para serem ‘consertadas’. Sofrem de depressão e de ansiedade, sentindo-se culpadas por não atenderem ao papel de mulher que a sociedade as impõe. Muitas mulheres querem ter voz, liberdade para sair com as amigas, direito a comer o que têm necessidade de trabalhar na profissão que escolheram. Assim, é missão nossa reconhecer esta condição de violência social e promover autonomia e empoderamento, para que esta mulher possa ser e fazer o que ela quiser”, finalizou a professora da FSLF.