Governo da Bahia compra seis mil exemplares do livro Torto Arado, que aborda temas como racismo e escravidão no Brasil, para adotar na escola pública

A obra aborda questões como a posse da terra, a luta de mulheres e o jarê — candomblé rural praticado unicamente na região da Chapada Diamantina

Foto: Mateus Pereira/GOVBA


Com o poema “Mulata, já não aceito”, a poetisa e quilombola Iris Neves abriu a cerimônia de lançamento, na rede estadual de ensino, da obra “Torto Arado”, do escritor baiano Itamar Vieira Júnior, que participou do evento, ao lado do secretário estadual da Educação, Jerônimo Rodrigues, e da secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, no auditório da Secretaria da Educação, em Salvador. O lançamento, realizado na tarde de segunda-feira (14), marcou a aquisição de seis mil exemplares do livro, que serão distribuídos para 1.137 unidades educacionais, em toda a Bahia.

Torto Arado foi publicado pela editora Todavia, em 2019, e aborda temáticas como racismo e a escravidão no Brasil, vencendo, até aqui, três prêmios de literatura: Oceanos, Jabuti e Leya, este último, internacional, foi conquistado em Portugal. A proposta pedagógica, fundamentada na obra, possibilita aos estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio o conhecimento da própria história e cultura afro-brasileira, assim como o da luta e resistência dos seus ancestrais.

O secretário Jerônimo Rodrigues destacou a importância da aquisição de obras literárias pela SEC e sobre o quanto os debates acerca dos temas, que atravessam as realidades de estudantes, são fundamentais para a formação de cidadãos. “Buscamos, cada vez mais, uma escola plural, em que todos os temas sejam respeitados e debatidos. O material será disponibilizado e orientaremos o seu uso para contextualizar com os movimentos quilombolas, indígenas e Movimento dos Sem Terra (MST), por exemplo”, explicou o secretário da pasta.

Foto: Mateus Pereira/GOVBA

O autor Itamar Vieira Júnior, que tem formação em Geografia, e doutorado em estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), explicou o motivo de os temas expostos nos livros serem tão importantes para os estudantes e educadores. “Penso que o professor e o aluno podem usufruir dessa história e, a partir daí, pensar, quem sabe, uma história nova”, pontuou o escritor, que também é autor do livro de contos ‘Dias’, além de ‘A Oração do Carrasco’ e ‘Doramar ou a Odisseia’.

A obra dará suporte para que educadores e estudantes acessem saberes sobre o passado colonial e escravagista brasileiro; a realidade dos trabalhadores no sertão baiano; bem como a formação das comunidades quilombolas na Bahia. Torto Arado também trata sobre as relações de trabalho semi-escravagista; a discriminação racial; e a questão da terra, além de fortalecer as identidades e cultura dos povos e comunidades.

A poetisa Iris Neves, que é da comunidade quilombola de Lages dos Negros, e oriunda do Colégio Estadual Luis José dos Santos, depois de descer do palco, onde compartilhou um de seus poemas, refletiu sobre a iniciativa da SEC em tornar a obra Torto Arado parte da didática do ensino público. “Sinto na pele todos os dias o incômodo e a dor da escravidão nos dias atuais, e esta obra entrega o domínio e o nosso poder de viver hoje, com a postura e a força que os nossos ancestrais nos deixaram. Saber que os estudantes de hoje vão poder trabalhar na sala de aula os temas deste livro e passar isso adiante é uma sorte e um prazer muito grande”.

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