CONQUISTA: Pesquisa sobre biologia reprodutiva das orquídeas na Uesb inspira filme científico
Foto: Reprodução/ Ascom Uesb
As flores podem ser encontradas de inúmeras espécies e em todas as partes do mundo. Comumente, são atribuídas a elas os símbolos da beleza, encantamento e fragilidade. No entanto, poucos sabem que a flor é órgão de reprodução das plantas, a parte que produz a semente e, consequentemente, o fruto.
Buscando compreender os processos de reprodução das flores, Tâmara Samile Santos, discente do curso de Ciências Biológicas da Uesb, campus de Vitória da Conquista, escolheu uma espécie de orquídea como tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso. “Luz, câmera, ação: documentário sobre a biologia reprodutiva de Cyrtopodium holstii (Orchidaceae)” aborda o processo de pesquisa da estudante, sob a orientação da professora Cecília Oliveira de Azevedo, do Departamento de Ciências Naturais (DCN).
“Embora a maioria das pessoas associem as flores a algo sensível e frágil, elas são, na verdade, os órgãos reprodutivos das plantas que servem para chamar a atenção não de outras plantas, mas, sim, de animais”, revela a aluna, que apresentou sua pesquisa através de um filme científico (assista abaixo). O trabalho também está disponível na Revista Botânica Pública.
Para desenvolver o trabalho de pesquisa, as autoras procuraram entender as estratégias reprodutivas das espécies, sobretudo, a Cyrtopodium holstii. “Como as plantas não podem andar para encontrar os seus parceiros, elas fazem com que os insetos trabalhem para elas. São eles que vão propiciar a mistura do material genético masculino e feminino. Eles atuam como transportadores de gametas e os chamamos de polinizadores”, explica a docente. “Para ‘convencê-los’ a trabalhar para elas, as plantas oferecem recompensas e adotam estratégias para chamar sua atenção, como cores, cheiros, e néctar”, completa a discente.
Estudo de campo – A Matinha da Uesb, localizada no campus de Vitória da Conquista, foi o ambiente escolhido por Tâmara para a realização do seu trabalho de pesquisa. Para tanto, aluna e professora passaram a observar os polinizadores e atuaram, também, como polinizadores artificiais, ou seja, fizeram cruzamentos manuais para tentar entender o processo de reprodução da planta, uma vez que um terço das espécies de orquídeas não oferece nenhum tipo de recompensa para os insetos.
“O sistema reprodutivo do Cyrtopodium holstii foi investigado em seu ambiente natural, através de observação de polinizadores e de quatro tipos de tratamentos: a autopolinização manual, a polinização cruzada manual, a autopolinização espontânea e a polinização em condições naturais”, esclarece Cecília. No filme, as pesquisadoras explicam, de forma detalhada, esses quatro exemplos de tratamentos.
A partir dos modelos observados na Matinha da Uesb, Tâmara obteve novas descobertas com os experimentos dos sistemas de reprodução da orquídea Cyrtopodium holstii. As plantas desenvolveram novos caules, as flores cresceram em outros locais da planta e, também, foi constatado que não houve transferência de grãos de pólen durante a noite. Segundo Cecília, os resultados também mostraram que a orquídea estudada possui outras características importantes. “Esta espécie é autocompatível, mas é dependente do polinizador, ou seja, apesar de poder se autopolinizar, não consegue fazer isto sozinha, dependendo da abelha para realizar este processo”, conclui.
Parceria e inclusão – O vídeo documentário teve suas imagens de campo gravadas entre novembro de 2017 e novembro de 2019. O filme foi produzido por meio de uma parceria do curso de bacharelado em Ciências Biológicas com o curso de Cinema e Audiovisual da Uesb. Além da tradicional monografia, os estudantes da graduação em Biologia podem elaborar o TCC em forma de um filme de divulgação científica.
O filme foi produzido em parceria com o curso de Cinema e Audiovisual da Uesb - Foto: Reprodução/ Ascom Uesb
Para o professor Rogério Luiz de Oliveira, do curso de Cinema e Audiovisual, um trabalho desse tipo é muito significativo, pois viabiliza a prática da interdisciplinaridade e proporciona a ampliação do intercâmbio de conhecimento. “Para mim, a coisa mais importante é a integração que a gente consegue promover entre cursos e entre saberes, tanto para Tâmara, como grande realizadora e protagonista do trabalho, quanto para diferentes estudantes de Cinema que colaboraram com esse processo”, avalia.
O professor ainda destaca o papel do registro audiovisual nesse formato científico para a popularização da ciência. “Estamos em um momento em que a comunicação vai muito na direção da expressão audiovisual enquanto instrumento de divulgação da informação de um modo geral. Acho que o conhecimento científico ganha muito quando se apropria desse recurso para informar e compartilhar resultados de esforços científicos”, defende o docente.
A sociedade igualmente ganha com a realização do trabalho da discente do curso de Ciências Biológicas podendo compreender de uma melhor forma o que são as flores, sua função em dar frutos e todo o trabalho reprodutivo das plantas. “Nosso objetivo com o filme é levar essa parte técnica e científica para o público mais leigo, a partir de uma linguagem mais acessível para que as pessoas possam entender”, comenta Cecília.